São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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SURGE O DISSENSO

O presidente George W. Bush vai enfrentando dificuldades para pôr em prática seu plano de atacar o Iraque. Além da relutância do Conselho de Segurança da ONU em aprovar uma resolução que autorize o uso da força contra Bagdá, Bush agora se depara com resistências no Congresso americano.
Seria precipitado afirmar que o Parlamento não vai permitir uma campanha contra Saddam Hussein, mas já parece claro que os congressistas não vão dar a Bush carta branca para agir militarmente no Iraque, como a Casa Branca havia requerido.
Depois de ser duramente criticado por lideranças democratas, inclusive pelo ex-vice-presidente Al Gore, que acusaram Bush de estar agindo politicamente, de olho nas eleições legislativas do próximo dia 5 de novembro, o presidente pediu aos líderes republicanos que chegassem a um acordo com os democratas.
A perspectiva agora é a de que o Congresso aprove uma resolução que autoriza o uso da força depois que outros meios diplomáticos estiverem esgotados. Embora tenha diminuído o tom em relação à oposição democrata, Bush voltou ontem a pressionar a ONU, afirmando que a organização deve aprovar já uma resolução contra o Iraque ou "sair do caminho", pois, nesse caso, os EUA atuarão sem o aval internacional.
Por mais que Bush negue, é forte a ligação entre as eleições e os preparativos para a guerra. Embora uma ação militar seja improvável antes de dezembro ou janeiro, quando as condições climáticas são mais favoráveis, o simples fato de o Iraque dominar o noticiário já produz indiretamente efeitos eleitorais. O predomínio de um tema internacional ofusca o debate sobre os graves problemas econômicos que o país atravessa, o que favorece os republicanos.
Seja como for, é positivo que tenha surgido um pouco de dissenso nos meios políticos dos EUA. O mundo só tem a ganhar se os norte-americanos debaterem -e pensarem- antes de lançar-se em aventuras bélicas.


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