São Paulo, sábado, 28 de setembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O mundo chegou

SÃO PAULO - A eleição que está entrando na reta final foi a primeira em que também a agenda eleitoral globalizou-se de fato.
Antes, podia haver menções ao "imperialismo ianque", ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e a outros santos e demônios menos votados, mas a agenda era predominantemente doméstica.
Na outra ponta, a das atenções internacionais, tampouco havia maior destaque para as eleições brasileiras, salvo no reduzido circuito de especialistas nessa excentricidade chamada América Latina ou dos jornais com tradição de excelência na cobertura internacional.
Por isso mesmo, menções, felizes ou infelizes, a este ou aquele país passavam em branco ou, no máximo, eram relegadas a espaços menos nobres dos jornais estrangeiros.
Agora, não. O fato de Luiz Inácio Lula da Silva ter chamado a Argentina de "republiqueta", por obra de vírgula mal lida ou não, ganhou a capa de jornais argentinos e provocou ondas de indignação.
Mais eloquente da globalização da campanha foi idêntica indignação, na Argentina, com os comentários de José Serra contra o Mercosul. Serra faz tais críticas há séculos, mas só agora, com a atenção posta na campanha, se deu a elas a dimensão de acontecimento de capa.
Na Venezuela, usa-se a perspectiva de vitória de Lula no primeiro turno para acelerar a conspiração contra o presidente Hugo Chávez no pressuposto de que, eleito Lula, haveria uma eixo Brasília/Caracas que tornaria mais difícil depor Chávez.
Tudo isso sem mencionar o fato de que a reunião de outono do FMI (outono no hemisfério norte) dedica inusitado espaço ao Brasil.
São sinais de que, lenta e penosamente, está desaparecendo um país que seu próprio presidente já chamou de "caipira". Bem-vindo ao mundo, Brasil. Bem-vindo?


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