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CLÓVIS ROSSI
O mundo chegou
SÃO PAULO - A eleição que está entrando na reta final foi a primeira em
que também a agenda eleitoral globalizou-se de fato.
Antes, podia haver menções ao
"imperialismo ianque", ao FMI
(Fundo Monetário Internacional) e a
outros santos e demônios menos votados, mas a agenda era predominantemente doméstica.
Na outra ponta, a das atenções internacionais, tampouco havia maior
destaque para as eleições brasileiras,
salvo no reduzido circuito de especialistas nessa excentricidade chamada
América Latina ou dos jornais com
tradição de excelência na cobertura
internacional.
Por isso mesmo, menções, felizes ou
infelizes, a este ou aquele país passavam em branco ou, no máximo,
eram relegadas a espaços menos nobres dos jornais estrangeiros.
Agora, não. O fato de Luiz Inácio
Lula da Silva ter chamado a Argentina de "republiqueta", por obra de
vírgula mal lida ou não, ganhou a
capa de jornais argentinos e provocou ondas de indignação.
Mais eloquente da globalização da
campanha foi idêntica indignação,
na Argentina, com os comentários de
José Serra contra o Mercosul. Serra
faz tais críticas há séculos, mas só
agora, com a atenção posta na campanha, se deu a elas a dimensão de
acontecimento de capa.
Na Venezuela, usa-se a perspectiva
de vitória de Lula no primeiro turno
para acelerar a conspiração contra o
presidente Hugo Chávez no pressuposto de que, eleito Lula, haveria
uma eixo Brasília/Caracas que tornaria mais difícil depor Chávez.
Tudo isso sem mencionar o fato de
que a reunião de outono do FMI (outono no hemisfério norte) dedica inusitado espaço ao Brasil.
São sinais de que, lenta e penosamente, está desaparecendo um país
que seu próprio presidente já chamou
de "caipira". Bem-vindo ao mundo,
Brasil. Bem-vindo?
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