São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Lula, EUA e sonhos

SÃO PAULO - A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva a Buenos Aires, a partir de domingo à noite, acabará marcando a primeira atividade concreta de seu governo.
Concreta e ousada: a idéia central é discutir com o governo argentino uma negociação bilateral Mercosul/ EUA, para um acordo de livre comércio, paralelamente à discussão em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ousada primeiro porque muda o enfoque da diplomacia brasileira exatamente na direção desejada por Washington: Robert Zoellick, o responsável pelo comércio exterior norte-americano, tem dito, uma e outra vez, que os EUA estão prontos para construir a Alca "passo a passo" (leia-se: país a país).
O Itamaraty, de seu lado, recusa-se a aceitar a idéia no pressuposto, não equivocado, de que a negociação bilateral enfraquece o poder de negociação do Sul ante o Norte.
O problema central, em todo o caso, não é de forma de negociação, mas de conteúdo. Ou, posto de outra forma: é possível arrancar dos EUA no mano-a-mano mais do que na negociação global?
O senador eleito Aloizio Mercadante, secretário de Relações Internacionais do PT, acha que sim. Cita, por exemplo, o caso do etanol, que os EUA terão de importar e que, hoje, entra no mercado norte-americano com um imposto de 100%. O Brasil seria o fornecedor ideal.
Mercadante sonha com a opulência do mercado norte-americano e lembra que o Canadá exporta para os EUA, em dez dias, o que o Brasil leva um ano para fazer.
O diabo é que os Estados Unidos também sonham com o menos suculento mas nada desprezível mercado brasileiro, não só para bens e serviços, mas para tudo o mais (investimentos, concorrências públicas, propriedade intelectual etc).
Será o PT capaz de desmentir o sentido comum que manda dizer que quem pode mais sonha mais alto?


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