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CLÓVIS ROSSI
Lula, EUA e sonhos
SÃO PAULO - A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva a Buenos Aires, a
partir de domingo à noite, acabará
marcando a primeira atividade concreta de seu governo.
Concreta e ousada: a idéia central é
discutir com o governo argentino
uma negociação bilateral Mercosul/
EUA, para um acordo de livre comércio, paralelamente à discussão em
torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ousada primeiro porque muda o
enfoque da diplomacia brasileira
exatamente na direção desejada por
Washington: Robert Zoellick, o responsável pelo comércio exterior norte-americano, tem dito, uma e outra
vez, que os EUA estão prontos para
construir a Alca "passo a passo"
(leia-se: país a país).
O Itamaraty, de seu lado, recusa-se
a aceitar a idéia no pressuposto, não
equivocado, de que a negociação bilateral enfraquece o poder de negociação do Sul ante o Norte.
O problema central, em todo o caso,
não é de forma de negociação, mas
de conteúdo. Ou, posto de outra forma: é possível arrancar dos EUA no
mano-a-mano mais do que na negociação global?
O senador eleito Aloizio Mercadante, secretário de Relações Internacionais do PT, acha que sim. Cita, por
exemplo, o caso do etanol, que os
EUA terão de importar e que, hoje,
entra no mercado norte-americano
com um imposto de 100%. O Brasil
seria o fornecedor ideal.
Mercadante sonha com a opulência
do mercado norte-americano e lembra que o Canadá exporta para os
EUA, em dez dias, o que o Brasil leva
um ano para fazer.
O diabo é que os Estados Unidos
também sonham com o menos suculento mas nada desprezível mercado
brasileiro, não só para bens e serviços, mas para tudo o mais (investimentos, concorrências públicas, propriedade intelectual etc).
Será o PT capaz de desmentir o sentido comum que manda dizer que
quem pode mais sonha mais alto?
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