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ELIANE CANTANHÊDE
Lula e Bush, passo a passo
BRASÍLIA - O encontro de George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva está
marcado para 10 de dezembro, em
Washington, com agenda livre, algum constrangimento e muitas trocas de gentilezas. Até lá, as coisas vão
caminhando.
Talvez por coincidência, talvez não,
Bush acaba de desistir de lutar pela
nomeação de Otto Reich como secretário de Estado para a América Latina e procura outro nome, digamos,
mais ameno. A decisão foi movida
por questões internas lá deles, porque
os senadores democratas não engoliam Reich. Mesmo assim, vem sendo
comemorada no Brasil.
Cá para nós, Reich é daqueles cubanos de Miami com ganas golpistas
contra Fidel Castro e urticárias contra Hugo Chávez. Daí a achar intimamente que o esquerdista Lula
completa o "círculo do mal" no continente é (ou pode ser) um passo.
Em compensação, Lula deve anunciar logo sua equipe econômica para
desembarcar em Washington com
nomes palatáveis na Fazenda e no
Banco Central. Vai ser a vez de os
mercados e os EUA comemorarem.
A substituição de Otto Reich e a indicação de nomes confiáveis para o
governo Lula promovem uma reversão de expectativas nas relações Brasil-EUA e projetam interessantes reflexos políticos na América Latina. O
que não deixa de ser curioso.
Nada parecia tão antagônico
quanto EUA e PT, mas ambos abandonam velhos ranços e dogmas e assumem o mais puro pragmatismo.
Não se trata de uma questão de amigo ou inimigo, mas de defesa de interesses de lado a lado. Na garantia de
créditos para o Brasil e na discussão
da Alca, por exemplo.
Ao se desvencilhar de Reich e receber Lula, Bush afasta a versão agourenta do "círculo do mal" e abre boas
perspectivas de negociações com o
Brasil e, portanto, com o continente.
Agora, só falta indicar Donna Hrinak para o lugar de Reich. Além de
embaixadora dos EUA no Brasil, ela
foi atuante e hábil para aplainar caminhos entre Bush e Lula. Mas isso já
seria querer demais.
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