São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula e Bush, passo a passo

BRASÍLIA - O encontro de George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva está marcado para 10 de dezembro, em Washington, com agenda livre, algum constrangimento e muitas trocas de gentilezas. Até lá, as coisas vão caminhando.
Talvez por coincidência, talvez não, Bush acaba de desistir de lutar pela nomeação de Otto Reich como secretário de Estado para a América Latina e procura outro nome, digamos, mais ameno. A decisão foi movida por questões internas lá deles, porque os senadores democratas não engoliam Reich. Mesmo assim, vem sendo comemorada no Brasil.
Cá para nós, Reich é daqueles cubanos de Miami com ganas golpistas contra Fidel Castro e urticárias contra Hugo Chávez. Daí a achar intimamente que o esquerdista Lula completa o "círculo do mal" no continente é (ou pode ser) um passo.
Em compensação, Lula deve anunciar logo sua equipe econômica para desembarcar em Washington com nomes palatáveis na Fazenda e no Banco Central. Vai ser a vez de os mercados e os EUA comemorarem.
A substituição de Otto Reich e a indicação de nomes confiáveis para o governo Lula promovem uma reversão de expectativas nas relações Brasil-EUA e projetam interessantes reflexos políticos na América Latina. O que não deixa de ser curioso.
Nada parecia tão antagônico quanto EUA e PT, mas ambos abandonam velhos ranços e dogmas e assumem o mais puro pragmatismo. Não se trata de uma questão de amigo ou inimigo, mas de defesa de interesses de lado a lado. Na garantia de créditos para o Brasil e na discussão da Alca, por exemplo.
Ao se desvencilhar de Reich e receber Lula, Bush afasta a versão agourenta do "círculo do mal" e abre boas perspectivas de negociações com o Brasil e, portanto, com o continente.
Agora, só falta indicar Donna Hrinak para o lugar de Reich. Além de embaixadora dos EUA no Brasil, ela foi atuante e hábil para aplainar caminhos entre Bush e Lula. Mas isso já seria querer demais.


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