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CARLOS HEITOR CONY
Linha amarela
RIO DE JANEIRO - Inaugurada há quatro anos, dentro de um planejamento urbano que daria bons resultados, a Linha Amarela, aqui no Rio
de Janeiro, em pouco tempo tornou-se uma dor de cabeça para as autoridades e uma ameaça para os seus
usuários.
Para quem não conhece a topografia do Rio, pode-se dar a imagem
grosseira de um triângulo cortado ao
meio por uma serra que começa em
seu vértice (esquematicamente, o
próprio Corcovado) e se prolonga ao
longo do território do Estado, formando a serra Carioca e mais tarde a
serra do Mar.
A solução viária para o Rio impõe a
necessidade de túneis e de vias expressas para ligar as pontas do triângulo que se afastam, perfurando a
serra em alguns pontos ou margeando-a em linhas, duas das quais são
hoje indispensáveis ao cotidiano carioca.
Acontece que obras de infra-estrutura, como os túneis e as linhas Amarela e Vermelha, tornaram-se armadilhas à disposição do crime organizado -e mesmo o desorganizado,
pois já houve assalto artesanal no túnel Rebouças. E os constantes tiroteios nas linhas nem sempre podem
ser atribuídos à máfia dos traficantes. São criminosos free-lancers, que
descobriram sobretudo a Linha
Amarela, onde diariamente há pelo
menos uma dezena de assaltos, muitas vezes com mortes.
Aos poucos, a população que usa os
túneis e as linhas para se movimentar entre os pontos mais distantes do
triângulo urbano que é o Rio, começa
a evitar os alçapões onde pode perder
o carro ou a vida.
O policiamento, precário nas zonas
abertas da cidade -centro e bairros
que dispensam túneis e linhas-, é
inexistente nessas vias expressas que
atravessam zonas de turbulência, como favelas, cabeças-de-porco etc.
O governo que vai embora arranjou um balão para policiar do alto os
pontos mais críticos da violência urbana. O governo que vai entrar pretende aposentar o balão, por ser caro
e deficiente. Como é que ficamos?
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