São Paulo, quinta-feira, 28 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Linha amarela

RIO DE JANEIRO - Inaugurada há quatro anos, dentro de um planejamento urbano que daria bons resultados, a Linha Amarela, aqui no Rio de Janeiro, em pouco tempo tornou-se uma dor de cabeça para as autoridades e uma ameaça para os seus usuários.
Para quem não conhece a topografia do Rio, pode-se dar a imagem grosseira de um triângulo cortado ao meio por uma serra que começa em seu vértice (esquematicamente, o próprio Corcovado) e se prolonga ao longo do território do Estado, formando a serra Carioca e mais tarde a serra do Mar.
A solução viária para o Rio impõe a necessidade de túneis e de vias expressas para ligar as pontas do triângulo que se afastam, perfurando a serra em alguns pontos ou margeando-a em linhas, duas das quais são hoje indispensáveis ao cotidiano carioca.
Acontece que obras de infra-estrutura, como os túneis e as linhas Amarela e Vermelha, tornaram-se armadilhas à disposição do crime organizado -e mesmo o desorganizado, pois já houve assalto artesanal no túnel Rebouças. E os constantes tiroteios nas linhas nem sempre podem ser atribuídos à máfia dos traficantes. São criminosos free-lancers, que descobriram sobretudo a Linha Amarela, onde diariamente há pelo menos uma dezena de assaltos, muitas vezes com mortes.
Aos poucos, a população que usa os túneis e as linhas para se movimentar entre os pontos mais distantes do triângulo urbano que é o Rio, começa a evitar os alçapões onde pode perder o carro ou a vida.
O policiamento, precário nas zonas abertas da cidade -centro e bairros que dispensam túneis e linhas-, é inexistente nessas vias expressas que atravessam zonas de turbulência, como favelas, cabeças-de-porco etc.
O governo que vai embora arranjou um balão para policiar do alto os pontos mais críticos da violência urbana. O governo que vai entrar pretende aposentar o balão, por ser caro e deficiente. Como é que ficamos?


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