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CLÓVIS ROSSI
Pelo telefone
SÃO PAULO - Primeiro foi a expulsão dos mal chamados radicais. Ninguém protestou. Em uma sociedade
arquiconservadora como a brasileira, radicalismo é doença. Seus portadores devem ser confinados aos guetos para que não perturbem com sua
voz a "coexistência pacífica com a
realidade, uma realidade horrenda",
para roubar conceito de Moisés
Naím, editor da revista "Foreign Policy", aplicável não só ao Brasil mas
ao conjunto da América Latina.
Ninguém se deteve a pensar que o
contrato entre os "radicais" e seus
eleitores e entre eles e o seu partido
original, o PT, não incluía votar a favor, por exemplo, da contribuição
dos inativos na reforma previdenciária. Prevaleceu o centralismo, não o
democrático, mas o stalinista.
Agora é a vez de outra demonstração de desapego a princípios básicos
de convivência política e pessoal na
forma como foi demitido o ministro
da Educação, Cristovam Buarque.
Não é decente dispensar por telefone um companheiro (de partido, de
governo, de trabalho), a não ser que
tenha cometido um pecado grave.
Não tenho elementos para julgar a
gestão dele na Educação, mas leio
que o pecado de que é acusado Cristovam é o de ser "acadêmico".
Admito que ser acadêmico não é
garantia de eficiência na gestão (ou
na vida), mas tampouco é uma condenação ao fracasso. Além do que, é
melhor ser "acadêmico" do que ignorante, vagabundo ou ladrão.
De novo, desrespeita-se o contrato
implícito entre um partido e um de
seus quadros. Cristovam Buarque
pode não ter sido fundador do PT,
mas milita nele há tempo suficiente
para ser conhecido. Foi útil para caçar votos para o Senado (como o fora
também Heloísa Helena, para não citar os deputados expulsos).
De repente, torna-se descartável,
sem ao menos a consideração de
uma conversa cara a cara, olho no
olho, como o presidente diz gostar de
fazer e como havia dito, em Monterrey, que faria. Mentiu. Se mente para
os companheiros...
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