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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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SOJA E BOM SENSO

A decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de liberar a comercialização da safra de soja transgênica ilegalmente cultivada no Sul do país é um gesto de bom senso. A alternativa seria a destruição dos grãos. A medida provisória que autoriza a venda do produto tanto no exterior como no mercado interno toma o cuidado de exigir que a soja geneticamente modificada seja identificada como tal, deixando à população a decisão final sobre o consumo.
Mas essa deliberação, que é correta, está longe de esgotar o assunto. O governo precisará, mais cedo ou mais tarde, posicionar-se definitivamente sobre a soja transgênica e outros produtos polêmicos da biotecnologia. Em termos estritamente técnicos, a questão é ainda nebulosa. A ciência não demonstrou plenamente nem a segurança nem os riscos desses produtos, seja para a saúde humana, seja para o ambiente.
O princípio de cautela exigiria que a liberação de transgênicos fosse retardada até que a segurança estivesse provada, mas, no sentido forte da lógica, isso jamais ocorrerá, pois é impossível demonstrar que uma causa não gera um efeito inesperado qualquer. Não é um despropósito apostar que transgênicos são razoavelmente seguros. A população dos EUA, por exemplo, consome esses produtos já há anos sem que tenham sido detectados problemas graves para a saúde ou o ambiente.
De toda forma, é perfeitamente compreensível que algumas pessoas não queiram consumir transgênicos. É um direito que lhes assiste. O problema é facilmente contornável com a rotulagem obrigatória.
Já a idéia de que a soja não-transgênica pode ser economicamente mais atraente para o Brasil deve ser considerada. Um país vasto como o nosso pode dar-se ao luxo de cultivar os dois produtos, atestando a origem não-transgênica para os compradores que assim preferirem.
A indefinição é que é nefasta.


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