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São Paulo, sábado, 29 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

É terrorismo

SÃO PAULO - Como chamar o bombardeio de um mercado, obviamente frequentado por civis, em qualquer cidade do mundo, se não de um ato de terrorismo?
Por que então o pudor que a maior parte do mundo tem em classificar como atos de terrorismos não um mais dois ataques a mercados iraquianos praticados nesta semana pelos Estados Unidos?
Claro que deve haver mais de uma resposta. Mas talvez a preferida seja esta: é de fato difícil admitir que um país como os EUA, democrático, respeitador das liberdades civis e dos direitos humanos, seja capaz de ações tão selvagens.
É verdade que, em inúmeras ocasiões, os Estados Unidos violaram a democracia, os direitos humanos e as liberdades civis em outros países em nome do combate ao comunismo.
Ainda assim houve e há gente disposta a perdoar, aceitando o discutível pressuposto de que é possível matar a liberdade para evitar que outros a assassinem.
Suponho que, mesmo agora, haverá um ou outro maluco capaz de achar que, para "libertar" os iraquianos de Saddam Hussein, vale libertá-los de todos os outros problemas terrenos e mandá-los diretamente ao túmulo (se todos os pedaços de todos os mortos forem de fato recuperados, o que é pouco provável).
Não adianta o Pentágono alegar que a culpa de civis estarem morrendo em cachos é do ditador iraquiano por, supostamente, ter colocado tropas no meio dos civis. Primeiro, porque os jornalistas ocidentais não acharam evidências de que, nos dois mercados já atingidos, houvesse de fato um alvo militar por perto.
Segundo, porque, mesmo que seja assim, o que se espera de uma democracia é que NÃO se comporte como uma ditadura impiedosa o faz.
Está, pois, na hora de chamar as coisas pelo nome: os ataques a civis não são "danos colaterais", mas atos de terrorismo.


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