BRASÍLIA - Caro leitor, imagine que você tem de aprovar um projeto, uma prioridade sua, e conta com o apoio até de seus adversários. Mais fácil do que tirar doce de criança, não é?
Não para o governo Lula. Há semanas, ele tenta votar a proposta de emenda constitucional que trata do sistema financeiro. Tem do seu lado até o PSDB e o PFL, seus opositores, mas não consegue.
Por quê? "Porque temos uns dinossauros na Câmara que defendem o tabelamento dos juros em 12% ao ano, uma letra morta da Constituição", desabafa um petista sobre a posição de alguns colegas.
A tendência, porém, é que, mais cedo ou mais tarde, o governo consiga aprovar a proposta. Não só porque os radicais petistas não têm força para derrotar os moderados mas também pelas concessões do governo.
Os líderes governistas já disseram que, aprovada a emenda do sistema financeiro, não estão mais dispostos a propor ainda neste ano a autonomia do Banco Central.
O discurso mudou. Antes, era prioridade votar a autonomia do BC. Agora, deixou de ser. Os petistas justificam a mudança, dizendo que Lula não precisa provar mais nada ao mercado financeiro.
A nova oposição aproveita para cair de pau no PT. Tucanos e pefelistas cobram coerência dos petistas e defendem o BC independente. Pura hipocrisia. No governo FHC, da boca para fora, também a defendiam. Mas nunca moveram palha para aprovar.
Pior é a posição do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda). Timoneiro da economia, tenta levar o barco para um lado e defende a autonomia do BC. Já os líderes de seu partido remam para o outro lado e lançam o projeto ao mar.
O que preocupa, porém, são as dificuldades em aprovar algo que, a princípio, parecia tão fácil. E quando forem enviadas as reformas tributária e da Previdência ao Congresso, temas bem mais polêmicos e complexos? Com a palavra, o PT.


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