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FERNANDO RODRIGUES
A história oficial
BRASÍLIA - Se tem uma coisa que funciona como relógio suíço dentro
da administração federal do PT é o
discurso concatenado de todos os ministros para proteger Lula em momentos de crise. Tem sido assim no
caso da violação do sigilo bancário
do caseiro Francenildo.
A história oficial do momento é singela. Lula, é claro, não sabia de nada.
O ex-ministro da Fazenda Antonio
Palocci teria conseguido enganar a
todos. Ele falava e repetia que não tinha nada a ver com o caso de quebra
do sigilo. Passou mais de uma semana recluso dentro do Palácio do Planalto. Reuniu-se com o grupo mais
próximo de Lula e com o próprio presidente várias vezes.
Enfim, ninguém teria captado nas
frases e nos olhares de Palocci algo
que pudesse indicar uma mentira. O
sistema de informações do governo
também não teria obtido informações a respeito. Um grande ator, o ex-ministro. Até que, na segunda-feira,
tudo veio abaixo, pois o então presidente da Caixa Econômica Federal
resolveu contar que o sigilo foi mesmo quebrado e que uma cópia do extrato foi entregue a Palocci.
Nesse momento, segue a versão oficial da história, tomado de indignação, Lula demitiu o ministro.
Ministros repetem essa versão estapafúrdia sem a menor cerimônia.
Julgam tratar apenas com néscios ou
portadores de afasia cerebral.
A parte mais surrealista da pantomima se deu ontem, dentro do Palácio do Planalto, na cerimônia de posse de Guido Mantega, novo ministro
da Fazenda. Todas as homenagens
foram para Palocci. Lula o chamou
de "companheiro" e de "irmão".
Na platéia, palmas e emoção dos
ministros que continuavam a sustentar que Lula havia sido traído pelas
mentiras contadas por Palocci.
É o governo do PT inovando mais
uma vez. O presidente da República
demite um ministro acusado de cometer um crime e de tê-lo traído. Na
saída, faz uma cerimônia para homenagear o traidor. Tenha dó.
@ - frodriguesbsb@uol.com.br
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