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PLÍNIO FRAGA
A esperteza embute a mentira
RIO DE JANEIRO - O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho mentiu até no seu último momento no governo. Homem cordato, de tom de
voz baixo, bom articulador, sonhava
suceder Lula em 2010. Foi derrubado
por um caseiro, em sua simplicidade
crua: "Confirmo até morrer", resumiu Francenildo dos Santos Costa,
ao ratificar na CPI sua afirmação de
que o então ministro freqüentava a
casa do lobby em Brasília.
A carta que Palocci enviou a Lula
em sua saída tem uma esperteza,
que, como tal, quase sempre embute
uma mentira. "Quero esclarecer, senhor presidente, que não tive nenhuma participação, nem de mando,
nem operacional, no que se refere à
quebra do sigilo bancário de quem
quer que seja", escreveu Palocci.
"Reafirmo ainda que não divulguei
nem autorizei nenhuma divulgação
sobre informações sigilosas da Caixa
Econômica Federal", argumenta ardilosamente Palocci.
Jorge Mattoso, presidente defenestrado da CEF, disse que entregou pessoalmente ao ministro o extrato do
caseiro em um encontro de cinco minutos na casa de Palocci em Brasília.
O ardil da carta do ex-ministro é
dizer que recebeu a informação, mas
não a repassou para a imprensa,
quando se configura a quebra de sigilo. Pelos depoimentos à Polícia Federal, cinco pessoas tiveram acesso ao
extrato, quatro da CEF e uma da Fazenda, sendo esta o próprio Palocci.
O jornalista Marcelo Netto, principal assessor de Palocci, é apontado
como suspeito de ter passado o documento à revista "Época". Como não
recebeu o extrato da CEF, é plausível
que o tenha obtido pelo próprio ministro. Por sua carta, Palocci quer dar
a entender que seu braço direito agiu
à sua revelia. É duro acreditar nisso.
Marcelo Netto era o principal parceiro do projeto presidencial do ex-ministro. Agia sintonizado com o
"chefe". A carta a Lula leva a assinatura de Palocci, menos pela tinta que
imprime seu nome no papel do que
pela capacidade de torturar os fatos
com as cores róseas da mentira até no
último suspiro de afogado.
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