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EDITORIAIS
LE PEN E A DEMOCRACIA
"Ninguém pretende que a
democracia seja perfeita ou
sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo,
salvo todas as demais formas que
têm sido experimentadas de tempos
em tempos." A frase é do estadista
britânico Winston Churchill (1874-1965) e coloca, com rara sinceridade,
o fato de que as democracias possuem, como todos os sistemas políticos, uma série de limitações.
A passagem do líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen para o segundo turno das eleições presidenciais
francesas oferece a oportunidade para refletir sobre algumas dessas imperfeições. Na hipótese, altamente
improvável, de que o dirigente da
Frente Nacional seja sagrado presidente no próximo domingo, a democracia francesa terá sido estendida a
seus limites máximos.
Alguns defenderão que uma eventual entronização de Le Pen não
constitui ameaça à democracia. A
vontade popular teria sido observada
e isso bastaria para satisfazer a liturgia democrática. Na verdade, as coisas são um pouco mais complexas.
Numa democracia, tão importante
quanto a expressão da vontade da
maioria é a defesa de um núcleo de
direitos fundamentais. Sem esse requisito prévio e inegociável, até Adolf
Hitler, que foi eleito em 1933, teria de
ser considerado um democrata, o
que seria um evidente absurdo.
Para que Le Pen se inscrevesse dentro da ordem democrática, teria de
ignorar a maioria das bandeiras que
vem defendendo nos últimos 30
anos. São projetos que, na prática,
resultariam na criação de campos de
internamento para imigrantes ilegais, no restabelecimento da pena de
morte (por guilhotina) e na censura à
imprensa, entre várias outras violações de princípios republicanos. É
evidente que, se a França desse tais
passos, não poderia mais ser considerada um Estado democrático.
Paradoxalmente, a democracia tem
de aceitar e conviver com tipos como
Le Pen, sejam eles da extrema direita
ou da esquerda radical. É aí que a democracia se diferencia dos totalitarismos e, em que pese conservar
uma série de limitações, se torna o
menos pior dos regimes políticos.
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