São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

O PT que não diz não a Maluf

SÃO PAULO - Um clichê tedioso da política é o caso do partido que assume o poder e renega parte do que dizia e pregava na oposição. Em maior ou menor grau, acontece com todos os partidos. Não é diferente com o PT de Marta Suplicy. Dito isto, sublinhe-se que o PT continua sendo das legendas mais orgânicas do país.
Mas o petismo no poder causa um pouco mais de derrisão ou sarcasmo devido ao seu costume de arrogar-se pureza. Por causa de sua militância descabelada, que quer submeter a ação política a mandamentos religiosos, o que chama de "ética". Por último, mas não menos importante, porque o PT atiça a gana reacionária brasileira, que é descomunal.
O PT paulistano vem amaciando o jogo contra Paulo Maluf. A prefeita Suplicy negou dinheiro para um advogado investigar Maluf no exterior. Os vereadores petistas não votaram as contas de Maluf prefeito, o que poderia torná-lo inelegível (por que o PT quereria Maluf na eleição? Para Geraldo Alckmin não levar a eleição paulista no primeiro turno?).
As contas de Maluf foram aprovadas com ressalva pelo Tribunal de Contas, pois não aplicou dinheiro em educação tal como mandaria a lei. A ressalva é mais ou menos a mesma que caberia para as contas de Celso Pitta e, ora viva, serviria para o Orçamento de Suplicy.
Marta Suplicy diz que CPIs demais "tumultuam" a Câmara, mesma crítica que o tucanato fazia ao PT no Congresso. O governo Suplicy negocia cargos por apoio político, o que o PT sempre chamou de fisiologia. O PT botou para fora um vereador que votou uma vez contra a linha do partido, um excesso autoritário.
Muitas dessas polêmicas são vulgares (mas e o caso do Maluf, hein?). Espera-se ao menos que o presente ridículo do PT paulistano seja profilático. Que o PT deixe de moralismos suburbanos e se dê ao respeito que deve ter o primeiro partido social-democrata de verdade que pode assumir o poder no Brasil.


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