São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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FERNANDO RODRIGUES

Ganhar e governar

BRASÍLIA - A atual onda de pessimismo que ronda a economia nos últimos dias não ocorre apenas por causa da inabilidade do pré-candidato oficial, José Serra, em decolar nas pesquisas. Há também uma percepção no mercado sobre a desvantagem que os postulantes ao Palácio do Planalto têm em relação ao atual ocupante da cadeira, Fernando Henrique Cardoso.
Existe um consenso sobre algo quase óbvio. No atual estágio de complexidade econômica e política do país, ganhar a eleição não é fácil. Mas governar é muito mais difícil.
O próximo presidente da República colocará os pés no Planalto no dia 1º de janeiro de 2003 tendo de propor inúmeras reformas constitucionais. Precisará de ampla base de apoio. Dificilmente terá o que FHC teve.
Em 1995, o primeiro tucano presidente tinha para bancá-lo o Plano Real. Estava derrubando a inflação. Havia vencido a disputa eleitoral no primeiro turno. Mais importante, FHC era talvez um dos mais tolerantes políticos que havia ocupado a Presidência. Falava com todos. Não cultivava mágoas e sabia agradar os parlamentares como ninguém -ainda que isso pudesse passar, como passou muitas vezes, a imagem de leniência com o fisiologismo e as más práticas políticas.
Dos quatro pretendentes mais ou menos competitivos, nenhum reúne sozinho as habilidades de FHC nem têm à disposição a conjuntura que ajudou o tucano no começo de seu primeiro mandato.
Lula (PT), Serra (PSDB), Garotinho (PSB) e Ciro (PPS) terão de conviver com um Congresso muito mais arredio. A inflação já está sob controle (embora ainda alta para padrões internacionais). A economia cresce pouco. Não há argumentos disponíveis para obrigar deputados e senadores a votarem medidas impopulares. Tudo somado, não importa quem vença no dia 6 de outubro. O eleitor deve estar preparado para um ano dificílimo em 2003.


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