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CARLOS HEITOR CONY
A bola pisada
RIO DE JANEIRO - Parece que Lula pisou mesmo na bola. Ao declarar
que o imposto de renda deveria chegar a 50% para quem ganha acima
de determinada quantia, forma oblíqua de taxar as chamadas grandes
fortunas, Lula assustou não o eleitorado, mas o patronato que de alguma forma manobra, manipula ou financia o eleitorado.
Nem se precisa entrar no mérito da
questão. Lula expressou, com inesperada ingenuidade, um dos pontos básicos que frequentam todas as reivindicações sociais: quem ganha muito
deve pagar muito para o bem de
muitos.
O problema é formalizar e operar
essa equação simplista que entra pelos olhos de qualquer um. Até certo
ponto, esse é o nó que nunca foi desatado em termos de tributação e justiça social. Daí que qualquer candidato que se leve a sério evita meter a
mão nessa cumbuca.
Se promete imposto maior para os
ricos, agrada aos pobres, que são
maioria. Mas desagrada (e como!) os
donos do capital, das fontes de produção, daqueles que, embora em minoria, detêm o comando da economia como um todo, e, em especial,
dos recursos que darão aos candidatos a possibilidade de se elegerem.
Em todo o caso, a declaração de Lula pareceu sincera. Mas assustou não
apenas os demais presidenciáveis,
que logo se apressaram a contestá-la,
mas ao próprio partido que está se
empenhando em mudar a imagem
não apenas de seu candidato, mas de
sua tática para chegar ao poder.
Simpatizo cordialmente com esses
chavões que, afinal, sem frescuras
nem complicações técnicas, pretendem corrigir o eixo em que se baseia o
Estado e dá à sociedade a garantia de
continuar a mesma, com suas distorções e injustiças.
Mas não sou candidato a nada.
Posso pensar com a minha cabeça.
Ao contrário de Lula, que é obrigado
a pensar com a cabeça dos que querem botá-lo no poder.
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