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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O motor e a máquina

BRASÍLIA - "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". É mais ou menos isso que o governo e o comando do PT estão exigindo dos partidos aliados (PPS, PSB, PDT, PC do B e PL), esperando do PMDB e pedindo da oposição (PSDB e PFL).
Traduzindo: "Queridos aliados e adversários, quebrem nosso galho e votem a favor da reforma da Previdência, porque, a depender da bancada do PT, estamos ferrados".
Ou seja, enquanto deputados e senadores petistas fazem pose para os servidores e se rebelam contra a contribuição de inativos, o teto de salário, o teto de aposentadoria e a idade mínima, governo e comando do partido se esgoelam para que os aliados entreguem a cabeça a prêmio e, digamos, preencham esse vácuo.
A resposta não está sendo tão satisfatória assim. Até o PPS, tão reformista quanto o PSDB, já avisou em alto e bom som que está muito a fim de votar a favor das reformas como querem governo federal e governadores, mas, sem a garantia da unanimidade dos votos do PT, nada feito.
Como adverte o deputado Paulo Bernardo (PR), um dos líderes petistas moderados e pró-reformas, "a bancada do PT tem de ser o motor da reforma da Previdência, senão a máquina a favor não anda". Ele disse, os aliados apóiam e a oposição concorda. Só falta combinar com os "adversários", e eles estão no PT -além de no PDT e no PC do B.
O que está em jogo é também a sobrevivência do sistema de Previdência e uma importante sinalização para o mercado. Mas é principalmente a própria força do presidente Lula, no primeiro ano do seu mandato.
Lula comprometeu-se com as reformas durante a campanha, depois de eleito, no discurso de posse e no acordo com os governadores. Amanhã vai pessoalmente ao Congresso com a proposta debaixo do braço.
Ou seja, petistas e aliados podem chiar, mas só têm uma alternativa: aprovar ou aprovar a reforma da Previdência. Porque a derrota seria do governo, do projeto e -direta, quase pessoal- do próprio Lula.


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