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São Paulo, terça-feira, 29 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O DNA da violência

RIO DE JANEIRO - Explicando o título: não se trata da violência como expressão de um comportamento esporádico, comum à humanidade em geral. Falo da violência específica na qual mergulhou a cidade do Rio de Janeiro, violência que a voz geral atribui quase que exclusivamente ao tráfico.
As duas pernas que movimentam o chamado crime organizado são as armas e as drogas.
Quando um arsenal dos bandidos é descoberto, os entendidos civis e militares admiram-se da sofisticação do armamento utilizado. Embora continuem usando facas e giletes no varejo, os traficantes dispõem de armas de última geração -e nenhuma delas é fabricada no Brasil.
Quanto às drogas, com exceção da maconha, que pode ser cultivada em vasos no peitoril de qualquer janela, todas são importadas, embora algumas delas sejam beneficiadas em laboratórios artesanais e clandestinos.
Daí se deve concluir que o único elemento nacional no tráfico é o homem, o pé-de-chinelo que eventualmente é morto ou preso. Dificilmente se acredita que esses marginais desdentados, sem fluência em nenhuma língua, nem mesmo na portuguesa, tenham estrutura e condições para manter a rede primária que faz o contrabando pesado de armas e matérias-primas das drogas. Elas aqui chegam por falha operacional ou corrupção profissional de dois órgãos: a Polícia Federal e a Receita Federal.
Os aeroportos e as fronteiras concorrem com alguns laticínios suíços, que têm mais buracos do que queijo. E, se a Polícia Federal, responsável pelo setor, é incapaz de impedir o contrabando de armas e de drogas, a Receita Federal, que cata centavos na renda de todos nós, deixa passar ou é impotente para descobrir as fortunas que o tráfico movimenta na mão e na contramão.
Ao governo federal, é cômodo decretar uma intervenção estadual que não resolverá o problema enquanto órgãos federais se mostrarem incapazes de combater o problema pelo DNA, quer dizer, pela raiz.


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