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Remediar ou prevenir
NUM MOMENTO em que tanto se fala da inflação dos
alimentos, do protagonismo do país na produção de biocombustíveis e do salto de produtividade da agropecuária brasileiro, muitos poderão ter recebido com surpresa o anúncio, pelo Planalto, de um pacote de alívio a agricultores endividados.
O total de dívidas que poderão
ser renegociadas chega a R$ 75
bilhões. O número de produtores
potencialmente agraciados é da
ordem de 2,8 milhões.
O pacote não surpreendeu, porém, àqueles que acompanham o
que se passa no campo. Ao longo
dos últimos anos, fatores variados minaram a saúde financeira
de uma grande massa de produtores. À instabilidade intrínseca
à atividade somaram-se fatores
como as violentas oscilações dos
preços internacionais, a pronunciada queda da cotação do dólar
(que corroeu as receitas, em
reais, advindas de exportações) e
o encarecimento de insumos.
É sempre incômodo imaginar
que, ao lado de produtores cuja
capacidade de pagamento foi solapada por circunstâncias além
de seu controle, possa haver
aqueles que deixaram de pagar
dívidas à espera de mais uma
operação oficial de salvação.
Cabe, naturalmente, cobrar
das autoridades mecanismos
que coíbam tais abusos. Mas a
cobrança estratégica diz respeito
à estruturação de políticas que
previnam o reaparecimento de
tamanhos desequilíbrios financeiros no campo, permitindo que
as operações de socorro deixem
de ser recorrentes.
Apesar de algum avanço na política agrícola -como a criação
de um fundo para socorrer produtores vítimas de desastres naturais-, as carências permanecem flagrantes. A infra-estrutura
de armazenagem e distribuição
da produção continua precária,
onerando os custos. Os mecanismos de seguro e de crédito têm
volume e abrangência ainda
muito limitados.
A escassez de recursos públicos não é impeditiva de um combate mais coordenado a essas carências. A experiência internacional demonstra que ações adequadas de regulação podem estimular o setor privado a assumir
papel central na oferta de crédito
e de seguro aos produtores.
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