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CLÓVIS ROSSI
Democracia e gasolina
SÃO PAULO - O gasto de R$ 10,5 milhões com gasolina por parte dos nobres deputados não é necessariamente alto. Chocado? Explico.
Democracia é um circo caro, mas
necessário e insubstituível. É óbvio
que haveria uma baita economia se,
por exemplo, fosse fechado o Congresso, com o que desapareceriam o
gasto com gasolina e todos os demais,
como salários e mordomias, muito
mais elevados.
A história do Brasil e do mundo já
demonstrou que, também nesse caso,
o barato sai caro. O autoritarismo é
uma inesgotável fonte de corrupção,
que, tudo somado, acaba custando
mais ao público.
O ponto, portanto, não é quanto os
parlamentares gastam com combustível, mas como gastam. Se os deputados percorressem suas regiões para
sentir as angústias e as necessidades
dos eleitores e transformassem o périplo em ação política para atendê-las,
seria dinheiro bem gasto.
O diabo é que queimam gasolina,
com raras exceções, só para cevar
seus currais eleitorais, em busca da
reeleição ou de outro cargo.
A atividade política transformou-se
num fim em si mesmo. O deputado
não se elege para representar uma região, um setor, uma audiência específica, e menos ainda para defender o
interesse público, mas para usar o
cargo para manter-se nele ou para
buscar outro mais apetitoso. Aí, R$
10,5 milhões em gasolina passam a
ser um escândalo.
Pior: não adianta esperar que os
próprios deputados corrijam o escândalo. Basta lembrar o que aconteceu
com a nova direção da Câmara dos
Deputados: um político jovem e de
um partido que enchia a boca para
arrogar-se o monopólio da virtude
acabou contratando quilos de funcionários sem concurso.
Apontada a irregularidade, nem ao
menos inventou uma desculpa. Orgulha-se dela.
Ou a própria sociedade cria os mecanismos de vigilância para expelir
os abusados pelo voto ou os abusos se
eternizarão.
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