São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Nós, as mulheres...

BRASÍLIA - Marta Suplicy (PT) é mulher e alavancou sua carreira política no segmento feminino, justamente no qual foi mal na última pesquisa Datafolha, de domingo.
Entre as eleitoras, José Serra (PSDB) tem 33%; Paulo Maluf (PP), 23%, e Marta, apenas 17%. Não deveria ser o contrário? Talvez não, porque ninguém vota ou diz que vai votar em alguém "só" porque é mulher. Mas que fossem, pelo menos, índices equivalentes, equilibrados.
Na avaliação mais superficial, esse resultado refletiria a separação da prefeita de um político como Eduardo Suplicy, logo no início da gestão. A separação, no entanto, não é decisiva. No máximo entraria numa espécie de "lista de débitos" aberta por outros motivos mais consistentes.
Para a socióloga Fátima Pacheco Jordão, expert em pesquisas políticas, a prefeita pode estar sofrendo "dupla reversão de expectativas": uma certa frustração com o governo Lula que se estende para outras administrações petistas e a percepção de que Marta está deixando de ser "diferente".
As mulheres, que têm mais contato com a vida cotidiana da cidade (escolas, postos de saúde, serviços públicos em geral), podem estar enxergando com certa desconfiança a desenvoltura de Marta nos bastidores, nas alianças partidárias, nos jogos de poder, lançando programas de cunho essencialmente eleitoral às vésperas do pleito. Enquanto Lula cai não só na real como nas pesquisas.
O fato é que Marta tem grandes e legítimas ambições. Quer se reeleger em 2004 e -apesar das negativas de praxe- disputar o governo de São Paulo em 2006 e a Presidência em 2010. Para isso, ela tem de recuperar o apoio sobretudo das mulheres. Não só pela importância numérica, mas porque a vida política de Marta começa e acaba com as mulheres.
E elas são muito desconfiadas e pragmáticas. O eleitorado feminino reagiu muito contra Lula, aderiu a ele com paixão e agora põe um pé atrás. Com Marta não seria diferente, muito pelo contrário. Como política, psicanalista e sexóloga, aliás, ela sabe disso melhor do que ninguém.


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