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ELIANE CANTANHÊDE
Nós, as mulheres...
BRASÍLIA - Marta Suplicy (PT) é mulher e alavancou sua carreira política
no segmento feminino, justamente
no qual foi mal na última pesquisa
Datafolha, de domingo.
Entre as eleitoras, José Serra
(PSDB) tem 33%; Paulo Maluf (PP),
23%, e Marta, apenas 17%. Não deveria ser o contrário? Talvez não,
porque ninguém vota ou diz que vai
votar em alguém "só" porque é mulher. Mas que fossem, pelo menos, índices equivalentes, equilibrados.
Na avaliação mais superficial, esse
resultado refletiria a separação da
prefeita de um político como Eduardo Suplicy, logo no início da gestão. A
separação, no entanto, não é decisiva. No máximo entraria numa espécie de "lista de débitos" aberta por
outros motivos mais consistentes.
Para a socióloga Fátima Pacheco
Jordão, expert em pesquisas políticas,
a prefeita pode estar sofrendo "dupla
reversão de expectativas": uma certa
frustração com o governo Lula que se
estende para outras administrações
petistas e a percepção de que Marta
está deixando de ser "diferente".
As mulheres, que têm mais contato
com a vida cotidiana da cidade (escolas, postos de saúde, serviços públicos em geral), podem estar enxergando com certa desconfiança a desenvoltura de Marta nos bastidores, nas
alianças partidárias, nos jogos de poder, lançando programas de cunho
essencialmente eleitoral às vésperas
do pleito. Enquanto Lula cai não só
na real como nas pesquisas.
O fato é que Marta tem grandes e
legítimas ambições. Quer se reeleger
em 2004 e -apesar das negativas de
praxe- disputar o governo de São
Paulo em 2006 e a Presidência em
2010. Para isso, ela tem de recuperar
o apoio sobretudo das mulheres. Não
só pela importância numérica, mas
porque a vida política de Marta começa e acaba com as mulheres.
E elas são muito desconfiadas e
pragmáticas. O eleitorado feminino
reagiu muito contra Lula, aderiu a
ele com paixão e agora põe um pé
atrás. Com Marta não seria diferente, muito pelo contrário. Como política, psicanalista e sexóloga, aliás, ela
sabe disso melhor do que ninguém.
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