São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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MAIS CEDO

Não faltará quem classifique como eleitoreiro o aumento de 35,2% na previsão de verbas para combater a dengue em 2002. Mesmo que tenha motivação eleitoral, a ampliação dos fundos anunciada pelo Ministério da Saúde para enfrentar a doença é bem-vinda. De janeiro a julho deste ano, foram oficialmente computados 673.059 casos. Levando em conta o fenômeno da subnotificação, é lícito supor que milhões de brasileiros foram infectados.
E é fundamental redobrar os esforços para conter a epidemia. Ao contrário do que pode parecer, ela não acabou. Apenas deu uma trégua neste inverno, em que o clima mais seco e as temperaturas mais baixas dificultam a proliferação do mosquito Aedes aegypti, o vetor da moléstia.
Mas que ninguém se engane. Ovos da próxima geração de mosquitos que propagará a doença já foram estrategicamente depositados pelas fêmeas em superfícies convenientes. Aguardam apenas o retorno das chuvas e um pouco mais de calor para eclodir e voltar a infernizar o sistema imunológico dos brasileiros.
Para agravar o quadro, já são 13 os Estados em que foi detectada a presença do sorotipo 3 da dengue, além dos mais clássicos 1 e 2. No ano passado, o tipo 3 só existia no Rio de Janeiro. Infecções recorrentes por sorotipos diferentes predispõem para o surgimento da forma hemorrágica da dengue, que pode ser fatal se não diagnosticada precocemente.
Para quem gosta de previsões catastrofistas, alguns epidemiologistas acreditam que é apenas uma questão de tempo até que a febre amarela, uma moléstia bem mais grave que a dengue, se reurbanize no Brasil. É que a febre também tem como vetor o mosquito Aedes aegypti. Se os focos do inseto são muitos e há pessoas não imunizadas vivendo próximas a eles, basta que alguém infectado seja picado para a doença se propagar.
Eleitoreiro ou não, o aumento das verbas antidengue é necessário. Na verdade, chega com atraso. O próximo verão ainda será dengoso.


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