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POLÍTICA DOLORIDA
Em artigo que esta Folha publicou na quarta-feira passada,
o economista americano Paul Krugman fazia recomendações enfáticas
às autoridades norte-americanas. A
Alan Greenspan, o presidente do
banco central dos Estados Unidos,
propunha um novo corte na já praticamente nula taxa de juros daquele
país. Ao presidente Bush, que amplie
ainda mais o gasto público. Nada
mais razoável para quem conhece a
história dos ciclos econômicos do
capitalismo e sabe distinguir o papel
concernente ao Estado: tentar evitar
os efeitos mais danosos dos "crashes" e/ou acelerar a saída da crise.
Na mesma edição, este jornal informava ao público sobre a decisão do
governo brasileiro de aumentar para
R$ 4 bilhões os cortes no Orçamento
deste ano. Isso no contexto de taxas
básicas de juros de 18% ao ano. No
entanto, os sinais de fraqueza, no
que tange aos dados do chamado lado real da economia, são, também
no Brasil, contundentes: queda continuada e acentuada da renda, do
emprego e da produção da indústria.
Mas o Brasil, como todos os países
endividados outrora chamados de
"emergentes", está impedido de
adotar o receituário proposto por
Krugman. Pior: é obrigado a adotar o
seu oposto. Se os sinais da economia
são de debilidade, o Estado aqui é levado a se retrair e a tomar medidas
que não raro sufocam a própria retomada do crescimento.
É compreensível que os investidores estrangeiros com dinheiro aplicado no Brasil pensem tão-somente
no retorno dessas transações. O que
não faz sentido é a instituição que foi
criada para amortecer crises internacionais impor aos países devedores
programas baseados nos ajustes recessivos. No momento em que o
Brasil está próximo de ter de pedir
socorro ao FMI novamente, esse tipo
de ponderação soa, infelizmente, como a crônica de uma dor anunciada.
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