São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

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POLÍTICA DOLORIDA

Em artigo que esta Folha publicou na quarta-feira passada, o economista americano Paul Krugman fazia recomendações enfáticas às autoridades norte-americanas. A Alan Greenspan, o presidente do banco central dos Estados Unidos, propunha um novo corte na já praticamente nula taxa de juros daquele país. Ao presidente Bush, que amplie ainda mais o gasto público. Nada mais razoável para quem conhece a história dos ciclos econômicos do capitalismo e sabe distinguir o papel concernente ao Estado: tentar evitar os efeitos mais danosos dos "crashes" e/ou acelerar a saída da crise.
Na mesma edição, este jornal informava ao público sobre a decisão do governo brasileiro de aumentar para R$ 4 bilhões os cortes no Orçamento deste ano. Isso no contexto de taxas básicas de juros de 18% ao ano. No entanto, os sinais de fraqueza, no que tange aos dados do chamado lado real da economia, são, também no Brasil, contundentes: queda continuada e acentuada da renda, do emprego e da produção da indústria.
Mas o Brasil, como todos os países endividados outrora chamados de "emergentes", está impedido de adotar o receituário proposto por Krugman. Pior: é obrigado a adotar o seu oposto. Se os sinais da economia são de debilidade, o Estado aqui é levado a se retrair e a tomar medidas que não raro sufocam a própria retomada do crescimento.
É compreensível que os investidores estrangeiros com dinheiro aplicado no Brasil pensem tão-somente no retorno dessas transações. O que não faz sentido é a instituição que foi criada para amortecer crises internacionais impor aos países devedores programas baseados nos ajustes recessivos. No momento em que o Brasil está próximo de ter de pedir socorro ao FMI novamente, esse tipo de ponderação soa, infelizmente, como a crônica de uma dor anunciada.


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