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CLÓVIS ROSSI
Uma certa histeria
MONTRÉAL - Começo por onde terminou ontem Fernando de Barros e
Silva, para quem "há uma certa histeria no ar".
Bota histeria nisso, Fernando. É
verdade que João Pedro Stédile merece ser embalsamado em vida e, nessas
condições, ser remetido para um hipotético museu da revolução que não
houve nem está à vista.
Mas daí a imaginar que Brasília é
uma Monróvia prestes a cair nas
mãos de um exército maltrapilho,
que a democracia está em risco etc. e
tal, vai uma baita distância que só a
histeria permite percorrer.
A histeria turva o raciocínio, de que
dá prova o editorial de sábado de "O
Estado de S. Paulo". Já no final, o texto mistura o caso Stédile com a queda
do investimento estrangeiro no Brasil, como se houvesse algum parentesco entre eles, para concluir: "Na China, onde o governo sabe exercer sua
autoridade, os investimentos caíram,
mas nada parecido com a queda no
Brasil".
Exercer autoridade? Mas a China
não é uma ditadura e, ainda por cima, comunista? Comunismo e ditadura não eram as duas coisas que o
velho "Estadão" mais abominava? Só
a histeria explica como a China, ditatorial e repressiva a mais não poder,
vira agora modelo para o Brasil.
Fica parecendo "guevarismo" de
direita. Só faltou gritar que é preciso
criar "uma, duas, três, cem praças da
Paz Celestial".
Pequena ajuda-memória: a violentação da democracia, no Brasil, sempre partiu da direita. Não que a esquerda seja inapetente na matéria. É
apenas incompetente e/ou impotente.
Stédile pode sonhar o quanto quiser
com uma reforma agrária na lei ou
na marra, mas, na vida real, quem
morre no campo são os sem-terra,
não os fazendeiros.
Sim, há uma baita tensão social no
país, como sempre houve, fruto de
um obsceno desequilíbrio. Sim, a tensão vem aumentando, fruto da esqualidez do crescimento econômico
gerada por um modelo que a direita,
agora histérica, aplaudiu de pé, neste
governo como no anterior. São fatos.
O resto é "uma certa histeria".
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