São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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ÁGUA SUJA

Já se tornou um lugar-comum afirmar que a água será o petróleo do século 21. Se isso for verdade, o Brasil, que detém 16% das reservas hídricas potáveis do planeta estaria em condições de ser uma espécie de Arábia Saudita e auferir no futuro lucros astronômicos. O clichê, porém, parece um pouco exagerado. Isso não significa que não precisamos preservar nossa água.
Lamentavelmente, o país não vem cuidando desse recurso como deveria. Como mostrou reportagem da Folha publicada no último domingo, o paulistano gasta cada vez mais para tratar a água que bebe. A principal razão é a degradação ambiental, que despeja quantidades crescentes de poluentes nos reservatórios.
Pode parecer incrível, mas existem hoje 2 milhões de pessoas vivendo em áreas de mananciais apenas na Grande São Paulo. O detalhe intrigante é que a lei veda a ocupação desses terrenos desde pelo menos meados dos anos 70. Apenas a incúria e a incompetência de sucessivas administrações municipais e estaduais explicam como uma população do tamanho de duas Campinas -a terceira maior cidade do Estado- pôde se instalar em zonas proibidas sem que ninguém a incomodasse.
O descalabro é tamanho que até os mais empedernidos ambientalistas desistiram da idéia de retirar toda essa população das áreas de mananciais. A prioridade agora, mais pragmática, é deslocar apenas aqueles que ocupam as zonas mais próximas da água e dotar as demais habitações de infra-estrutura, de modo a garantir que esgotos e dejetos não cheguem aos reservatórios. Igualmente importante é evitar que novos contingentes populacionais venham a se instalar nas áreas de proteção.
Mesmo que a água não se torne o ouro translúcido do século 21, é certo que seu valor -material e também estratégico- tende a crescer. Mais importante, dependemos dela para sobreviver, o que deveria bastar para justificar o máximo cuidado com o precioso líqüido.


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