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ÁGUA SUJA
Já se tornou um lugar-comum
afirmar que a água será o petróleo
do século 21. Se isso for verdade, o
Brasil, que detém 16% das reservas
hídricas potáveis do planeta estaria
em condições de ser uma espécie de
Arábia Saudita e auferir no futuro lucros astronômicos. O clichê, porém,
parece um pouco exagerado. Isso
não significa que não precisamos
preservar nossa água.
Lamentavelmente, o país não vem
cuidando desse recurso como deveria. Como mostrou reportagem da
Folha publicada no último domingo,
o paulistano gasta cada vez mais para
tratar a água que bebe. A principal razão é a degradação ambiental, que
despeja quantidades crescentes de
poluentes nos reservatórios.
Pode parecer incrível, mas existem
hoje 2 milhões de pessoas vivendo
em áreas de mananciais apenas na
Grande São Paulo. O detalhe intrigante é que a lei veda a ocupação desses terrenos desde pelo menos meados dos anos 70. Apenas a incúria e a
incompetência de sucessivas administrações municipais e estaduais explicam como uma população do tamanho de duas Campinas -a terceira maior cidade do Estado- pôde se
instalar em zonas proibidas sem que
ninguém a incomodasse.
O descalabro é tamanho que até os
mais empedernidos ambientalistas
desistiram da idéia de retirar toda essa população das áreas de mananciais. A prioridade agora, mais pragmática, é deslocar apenas aqueles
que ocupam as zonas mais próximas
da água e dotar as demais habitações
de infra-estrutura, de modo a garantir que esgotos e dejetos não cheguem aos reservatórios. Igualmente
importante é evitar que novos contingentes populacionais venham a se
instalar nas áreas de proteção.
Mesmo que a água não se torne o
ouro translúcido do século 21, é certo
que seu valor -material e também
estratégico- tende a crescer. Mais
importante, dependemos dela para
sobreviver, o que deveria bastar para
justificar o máximo cuidado com o
precioso líqüido.
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