São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Estatizem o Banco Central

SANTANDER - O pedido de demissão de Luiz Augusto Candiota da diretoria do Banco Central deveria servir para inverter completamente o rumo da discussão sobre o BC. Não se trata, ao contrário do que pensa e quer o ministro Antonio Palocci, de conceder autonomia ao Banco Central, mas de estatizá-lo.
Pode até ser que Candiota não tenha agido de má-fé no caso em que está sob investigação do Ministério Público por suspeita de sonegação fiscal e evasão de divisas. Apenas atuou de acordo com praxes que são mais ou menos comuns e disseminadas nesse mundo das operações financeiras globalizadas.
O problema não é apenas a suspeição, mas a cultura predominante no BC nos últimos muitos anos. Na medida em que é sistematicamente ocupado por gente que vem do mercados financeiros, a cultura resultante é inescapavelmente a do mercado financeiro. Haverá momentos em que os interesses dos mercados e os do país até coincidirão (serão raros, acho eu, mas pode acontecer).
Na maioria das vezes, no entanto, o mercado olha apenas para os números que lhe interessam, quando uma instituição pública, como deveria ser o BC, teria de olhar também para os números que interessam aos mortais comuns que não têm recursos ou vocação -ou ambos- para apostar no cassino financeiro.
Não, não estou querendo dizer que o BC deva ser uma entidade benemerente que só se preocupe com o Fome Zero ou outro programa social.
Mas é inaceitável que só se preocupe com o que preocupa o mercado, só atenda os desejos do mercado, só se paute pelo mercado, trema de medo do mercado.
O instinto básico dos ocupantes de postos-chaves na diretoria do BC tem sido muito mais pró-mercado do que pró-sociedade.
PS - Minha viagem à Espanha é a convite do Grupo Santander. Pelo menos não posso ser acusado de sonegar essa informação ao leitor. Não preciso, portanto, ser estatizado.


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