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ELIANE CANTANHÊDE
Quem paga a conta?
JOHANNESBURGO - A queda de Ciro e a subida de Serra também repercutiram na delegação brasileira aqui
em Johannesburgo, África do Sul.
Com uma diferença: enquanto os diplomatas admitem uma certa torcida por Serra, o pessoal das ONGs
queria saber qual o reflexo sobre Lula. É melhor para ele? Pode ser pior.
Bem, mas o principal debate aqui
não é pesquisa presidencial, e sim o
futuro do planeta. Países pobres contra ricos, comércio contra ambiente,
princípios e metas. E o principal:
quem paga a conta? O que remete de
cara para os EUA, com discurso preservacionista e prática predatória.
Todo mundo (literalmente) defende o desenvolvimento sustentável como um conjunto de ações que inclui
ar, água, saúde, saneamento e redistribuição de renda entre regiões do
planeta, países, Estados e... pessoas. O
bem-estar da humanidade, enfim.
Os ricos, EUA à frente, são os maiores poluidores, já destruíram o que
podiam em nome do desenvolvimento e agora querem impedir que os pobres sigam o mesmo caminho. Os pobres topam, mas querem a sua parte
em recursos e em tecnologia e cobram
a parte dos ricos em cotas obrigatórias de redução de danos.
Os problemas ambientais são bem
identificados. Há alguma consciência
sobre a sua importância e um certo
consenso sobre formas para evitar
que as coisas se agravem e até para
tentar uma reversão nos estragos. A
questão é que tudo isso tem de ser já,
e tudo isso custa muito caro.
O mundo está de pernas para o ar,
mas os principais culpados tentavam
na Rio +10 exigir responsabilidades
comuns, não diferenciadas. Como se
EUA e a Índia tivessem culpas iguais
pelas enchentes em Dresden e Praga,
pela seca e queimadas em Mato
Grosso e pelo inverno de 30C em São
Paulo. A mesma culpa e os mesmos
recursos para purgá-la.
Tanto George W. Bush sabe que
não têm que nem vai dar as caras por
aqui. Seria o típico caso de cara a tapa, e ele pode não entender nada,
mas besta é que não é.
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