São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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PAÍS DO FUTURO

Projeções dão conta de que, em 2020, o Brasil terá mais de 209 milhões de habitantes. Para que essa informação não seja uma mera curiosidade, é preciso que sirva de base para a elaboração de políticas públicas com vistas a adequar os serviços do Estado à nova realidade.
As mudanças no perfil demográfico projetadas pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base em dados do Censo de 2000 operam com dois cenários de redução na taxa de fecundidade. Na maior queda (para 1,3 filho por mulher nas áreas urbanas e 1,8 nas rurais), a população de 2020 seria de 209,5 milhões. Com a redução menor (1,8 filho nas zonas urbanas e 2 nas rurais), o total de brasileiros chegaria a 217,4 milhões.
Em ambos os casos, haverá uma significativa elevação da população com mais de 60 anos. Em 2000, os idosos representavam 8,5% dos brasileiros. Em 2020, eles ficarão entre 14,2% e 14,7%. A população mais jovem, entre 0 e 14 anos, cairá bastante. Passará dos 30% de 2000 para algo entre 20,4% e 23,1%.
É preciso, portanto, começar a preparar o terreno para o novo quadro. Entre as áreas que mais sofrerão pressão estão a Previdência e os serviços de saúde, ambas já hoje bastante problemáticas. Nos dois cenários do Ipea, o Brasil de 2020 terá uma taxa de fecundidade inferior à de reposição. Isso significa que o atual sistema precisa ser adequado para uma situação em que haverá cada vez menos trabalhadores na ativa para manter os já retirados. A adequação passa pelo aumento do tempo de contribuição e eventuais ajustes de benefícios, mas também por fatores macroeconômicos, como a capacidade de crescer e gerar empregos.
No que concerne à saúde, é importante lembrar que o envelhecimento se dará não apenas pela queda da fecundidade mas também pelo aumento da expectativa de vida, o que exige cuidados extras com a prevenção. Se o sistema começar a tratar desde já doenças típicas dos mais idosos como hipertensão arterial e diabetes, diminuirão os custos futuros e, mais importante, melhorará a qualidade de vida da população.
O Brasil vai se encaminhando para um perfil populacional semelhante ao de países europeus sem ter, no entanto, até aqui, experimentado um padrão de prosperidade minimamente comparável. A permanecer a dinâmica de baixo crescimento e as dificuldades do Estado de planejar e antecipar problemas, o futuro pode reservar surpresas desagradáveis.


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