São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

As pesquisas

BRASÍLIA - Nunca uma campanha eleitoral no Brasil teve tantas pesquisas de opinião à disposição dos eleitores. Em 2000, nesta época, havia levantamentos sobre 120 cidades. Hoje, 147 municípios estão pesquisados -uma cobertura de aproximadamente 45% do eleitorado do país.
Parte dos levantamentos é um lixo. Há um caso em que a margem de erro é de pornográficos 6,92 pontos percentuais. Ainda assim, é uma boa notícia para o país que mais e mais pesquisas sejam realizadas. O eleitor tem o direito de conhecer a opinião da sua comunidade a respeito dos candidatos a prefeito.
O problema está em discernir a pesquisa séria da que não presta. Para sorte dos eleitores, neste ano, o TSE melhorou sua resolução que obriga os meios de comunicação a divulgar a metodologia completa dos levantamentos de opinião eleitoral.
O leitor da Folha já estava acostumado. Desde sempre o Datafolha informa minuciosamente o número de pessoas entrevistadas, a data do levantamento e a margem de erro.
Agora, os telejornais também ficaram obrigados a gastar alguns minutos explicando que dois candidatos estão tecnicamente empatados quando a distância entre seus percentuais está dentro da margem de erro do levantamento. É uma transparência bem-vinda no processo eleitoral.
Foi uma decisão corajosa do TSE. Teria sido mais fácil sucumbir à pressão do CCP (comando de caça às pesquisas), integrado por políticos mesozóicos que preferem simplesmente proibir os levantamentos. Para essa turma, como diria o ministro Luiz Gushiken, a liberdade de pesquisar também é relativa.
Ocorre que a divulgação ostensiva das margens de erro provocou um efeito colateral indesejado. Por exemplo, a interpretação de que as pesquisas nunca estiveram tão disparatadas. É uma conclusão errada. As pesquisas nunca estiveram tão transparentes -mas não necessariamente mais ou menos precisas. Só falta, agora, os políticos defenderem a não-divulgação da margem de erro.


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