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VINICIUS TORRES FREIRE
PT, adeus
SÃO PAULO - Por quem os sinos dobram? Há muita gente de luto por
uma certa idéia de política que fazia
parte da aura do PT. Esse "luto da
traição" é sensível no rico debate que
a Folha publicou ontem na forma de
artigos e entrevistas sobre o primeiro
ano de Lula. Mas que morte, que
traição, que desencanto intelectuais e
gente de esquerda lamentam?
No poder, a natureza do petismo-
lulismo desabrochou. Mas desde
sempre ela esteve incubada no íntimo do partido. A incorporação petista ao establishment foi um processo
real, não só ideológico, oportunista
etc.
O PT foi o partido dos trabalhadores da indústria e da elite dos serviços
(bancários e servidores), a classe baixa do Brasil rico, "incluído". Os muito pobres, os inempregáveis, o povo
do bico, catadores de lixão e de calangos e seus líderes, tornaram-se cada
vez mais minoritários no partido.
Parte deles, grupo sem futuro econômico ou político, virou o MST.
A burocratização do PT, sua transformação em partido de quadros
apenas, orientados pela autopreservação política, cristalizou a tendência acomodatícia do petismo-lulismo, sua inclusão no establishment.
Uma conjuntura política e econômica mundial extremamente conservadora cimentou o centrismo.
Mas o que alimentava a ilusão dos
traídos, hoje de luto? O projeto democrático, de incorporar e dar voz aos
párias, cedo feneceu ou se tornou
marginal no PT. O que sobrara? Cacos do discurso antiimperialista, contra a "financeirização", contra o
"ajuste fiscal". Sobrou o catolicismo
do bolsa-esmola, do "social", o nacionalismo, o estatismo. Sobrou o fetiche
da palavra "socialismo", uma forma
de alienação da razão política.
O PT não é a social-democracia européia. A social-democracia resultou
do conflito político central dessas sociedades (capital e massa operária)
-o Brasil é outra história.
O PT não é esquerda, nem é possível levar a sério esquerdas que não
enterrem o mito caquético do socialismo, o vício estatista, a lamúria do
"imperialismo" e outros clichês.
Essa história chegou de fato ao fim.
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