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FERNANDO RODRIGUES
Prestação de contas
BRASÍLIA - Um princípio básico da democracia representativa de modelo ocidental americano é a prestação de contas e os mecanismos de cobrança de responsabilidade. Em inglês, uma palavra basta para dizer
tudo isso: "accountability".
Em português, língua derivada de
cultura cartorial e diferente da anglo-saxã, não existe um termo apropriado. É necessário explicar. Talvez
seja essa a razão de o governo, seja de
tucanos elitistas ou de petistas neoconservadores, não ter apreço por
uma prestação de contas digna desse
nome. Está na nossa cultura. Quem
precisa não faz. Quem deveria cobrar
cala-se ou faz muxoxo.
O material apresentado pelo governo Lula sobre o primeiro ano de governo é indigente. Páginas e páginas
de regozijo sem sistematização. Não
há uma lista de ações prometidas e
atos consumados. A opção é distrair-se com as odes de auto-elogio lulista.
No balanço disponível na internet
(www.brasil.gov.br/balanco), aprende-se que 2003 ficará conhecido como
o ano da "corrupção zero" (sic). Mas
o melhor está no suculento boletim
eletrônico "Em Questão".
Produzido no Planalto e já conhecido em Brasília como o "Pravda petista", o "Em Questão" nš 134 anuncia
alguns feitos de Lula. Eis um deles:
"Criação do governo eletrônico, onde
diversos órgãos federais disponibilizam informações via internet". Mais
um pouco o PT diria ter inventado a
internet.
O uso da internet foi adotado na
gestão FHC e mantido na administração Lula. Nada além da obrigação
num sistema republicano. Pena não
ter sido bem assim.
A informação mais relevante é a da
execução orçamentária. Permanece
na penumbra. Alguns privilegiados
têm senha de acesso ao Siafi (Sistema
Integrado de Administração Financeira) -que ficou fora do ar em momentos cruciais neste ano.
Ao governo do PT, como ao de
FHC, não convém muita gente saber,
em tempo real, quais emendas são liberadas e quem recebe o dinheiro.
Pensando bem, faz sentido.
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