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ELEIÇÃO MELANCÓLICA
As eleições legislativas de anteontem em Israel tiveram o
mais alto nível de abstenção da história do país: 32% dos 3,2 milhões de
eleitores não compareceram às urnas, o que é estranho para um país
altamente politizado como Israel.
O recorde traduz o espírito com
que os israelenses votaram: desinteresse e até alguma melancolia. Sob
essa luz se deve ler o resultado: uma
histórica vitória do Likud, o partido
do primeiro-ministro, Ariel Sharon.
Fica a sensação de que o eleitor israelense já não acredita em soluções.
Vota em Sharon por julgar que é o
candidato mais capaz de fazer frente
aos atentados terroristas palestinos,
ampliados depois do fracasso das
negociações de paz em 2000, mas
não espera que ele resolva o conflito.
O debate ideológico, que sempre
foi bastante intenso em Israel, quase
desapareceu. A campanha foi marcada por denúncias de corrupção envolvendo a família de Sharon. Mesmo com um escândalo potencialmente explosivo contra o Likud, o
Partido Trabalhista (centro-esquerda) não foi capaz de evitar a pior derrota de sua história. Viu sua representação no Knesset (Parlamento)
reduzir-se de 26 para 19 cadeiras.
Paradoxalmente, os derrotados trabalhistas deverão ser cortejados por
Sharon na formação do novo governo. O premiê teme tornar-se refém
dos pequenos partidos de extrema
direita e religiosos. Porém Amram
Mitzna, o líder trabalhista, já excluiu
participar de um novo governo de
união nacional. Afirma que seu partido precisa passar algum tempo na
oposição para credenciar-se como
alternativa ao Likud. Resta saber se
todos os trabalhistas pensam como
seu líder ou se o partido vai rachar.
Só o que é certo é que os israelenses, por ora, rejeitaram voltar à mesa
de negociações com os palestinos, o
que é muito ruim para os que ainda
acreditam na paz no Oriente Médio.
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