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CLÓVIS ROSSI
A "Quarta Via"
BRUXELAS - Bem feitas as contas, a razão básica do sucesso que Luiz Inácio Lula da Silva alcançou na sua primeira incursão ao "grand monde"
europeu/financeiro foi a mesma que
rendeu aplausos a Fernando Henrique Cardoso na sua época.
No caso de Lula, pode ser simplificada na expressão: tudo pelo social,
menos romper o molde da ortodoxia
econômico-financeira.
É dessa forma que se decompõe a
expressão "socialista maduro" aplicada a Lula por Horst Köhler, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Socialista", por usar a antiga retórica petista em favor dos pobres e
contra a fome, no Brasil e no mundo.
"Maduro", por pretender atingir a
meta "socialista" usando "prudência
fiscal", para continuar com as palavras de Köhler.
É possível? O diretor do Fundo tem
certeza de que, sim, é possível. O contrário é que é inviável, diz.
Mas o sucesso de Lula se deve também ao fato de que seu "socialismo
maduro" é posto sob intensos holofotes no momento em que há uma crise
de modelos no planeta.
Fora meia dúzia de perfeitos idiotas
neoliberais, ninguém mais acredita
no tal "Consenso de Washington" ou
neoliberalismo.
Ou se mostrou insuficiente, para os
moderados, ou um total fracasso, para os críticos mais agudos.
Como o modelo contraposto (comunismo, socialismo real, como se
queira chamar) também fracassou
-e mais estrepitosamente ainda-,
há uma razoável dose de perplexidade, como ficou claro nos debates do
Fórum de Davos, neste ano como em
anos anteriores.
Se, de repente, lá nos confins do planeta aparecer um sujeito capaz de
acabar com a fome sem romper o
acordo do governo anterior com o
FMI, será a salvação da lavoura, o
novo ovo de Colombo.
A tentativa de ser um social-democrata amigo do mercado chegou a ser
batizada de "Terceira Via". Caiu em
desuso. É a vez da "Quarta Via"?
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