RIO DE JANEIRO - Devemos louvar o bom humor de Lula, que, ao saber da torta jogada no presidente do seu partido, teria dito: "Logo o Genoino!".
Nos bancos escolares, aprendi aquele axioma de Aristóteles, segundo o qual a afirmação de uma coisa não é a negação de outra: "Afirmatio unius non est negatio alterius". Não se deve concluir que, na opinião de Lula, a torta na cara de qualquer um do PT seria aceitável, mas logo o Genoino!
Condena-se a agressão, mesmo a agressão "light", a mesma que deu sustentação aos filmes do cinema mudo, que foram classificados como pastelões. Mas a torta jogada no presidente de um partido organizado como o PT, com o histórico de José Genoino, e por uma militante do próprio partido, revela alguma coisa além do protesto.
Os mais radicais já pensam em abandonar o partido, criando uma espécie de PT do B, em oposição ao PT de Lula. Seria a formalização de uma fratura que, no fundo, enfraqueceria os dois, enterrando a unidade que levou o partido à espetacular vitória eleitoral de outubro passado.
No início, estranhei quando li, num cientista político dos mais notáveis de nossa era, que a direita nem sempre é burra e grosseira. Em momentos críticos, quando não apela para o terror nem para a violência, faz jogadas inteligentes e a médio prazo.
A recente adesão ao PT das forças conservadoras pode estar neste caso. Seria uma jogada inteligente e a médio (ou mesmo longuíssimo) prazo.
Constatando que o partido mais organizado do país é o PT, com poderosas bocas de fogo para combater a selvageria do capitalismo e do neoliberalismo, e que os conservadores distribuídos nos diversos partidos do centro e da direita colaboraram na eleição de Lula, mais cedo ou mais tarde a unidade do partido seria destruída, comprometendo as causas sociais prometidas na campanha.


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