São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2004

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DERROTA DE CHIRAC

Foi estrondosa a derrota do presidente Jacques Chirac nas eleições regionais francesas. A aliança de socialistas, comunistas e verdes venceu em 25 das 26 Regiões (o equivalente dos Estados brasileiros) do país. A única exceção é a Alsácia, que segue nas mãos dos conservadores.
Embora não se possa negar aos socialistas méritos pela vitória, o principal responsável por tão veemente resultado é o próprio governo, que tenta aprovar uma série de medidas impopulares, cortando aposentadorias e outros benefícios do sistema de bem-estar social francês, inclusive na educação e na saúde. As reformas propostas por Chirac e seu premiê, Jean-Pierre Raffarin, guardam muitas semelhanças com aquelas apresentadas pelo chanceler Gerhard Schröder, da Alemanha. A diferença é que Chirac é um representante da direita republicana, enquanto Schröder é social-democrata.
O descontentamento dos franceses foi claramente expresso. O que não está claro é o que Chirac vai fazer. Em princípio, ele pode considerar que o pleito limita-se à realidade das Regiões. Politicamente, contudo, a situação de Raffarin tende a tornar-se insustentável. A dúvida é se Chirac vai demiti-lo já ou se pretende esperar a aprovação do restante das reformas, de modo a poupar de desgastes o próximo premiê.
O certo é que o governo Chirac sai enfraquecido das urnas, o que reacende as esperanças de socialistas de retomar o poder em 2007, depois da humilhante derrota de 2002, quando seu candidato, o então premiê Lionel Jospin, nem sequer foi ao segundo turno, ficando atrás do líder da extrema direita, Jean-Marie Le Pen.
A questão central que deverá definir as próximas eleições em países tão importantes como a França e a Alemanha é justamente a do ritmo das reformas que devem ser feitas no sistema de bem-estar social. Não há muitas dúvidas de que é necessário adequar os gastos do Estado às mudanças no perfil demográfico da população, que vai envelhecendo. Como isso deve ser feito e com qual intensidade é a grande incógnita.


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