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CLÓVIS ROSSI
Lições eleitorais
MADRI - A vitória da esquerda nas eleições regionais francesas de domingo, apenas duas semanas depois
do triunfo dos socialistas na Espanha, significa uma virada à esquerda
de uma Europa que tombava para a
direita até recentemente?
Não. Na safra eleitoral recente,
houve antes a derrota dos socialistas
gregos e o estraçalhamento da social-democracia alemã na cidade-Estado
de Hamburgo, seu feudo histórico.
Dois a dois, portanto.
Ainda assim e ressalvado o fato de
que há abissais diferenças entre o
Brasil e a Europa, restam lições de
validade talvez universal.
Lição 1 - Mentir, ocultar e/ou manipular informações faz mal à saúde
eleitoral de seus responsáveis. É a
principal lição do pleito espanhol em
que ficou a nítida sensação de que o
governo conservador manipulou as
informações sobre os autores dos
atentados do dia 11.
Vale, a propósito, frase do jornal
britânico "Daily Telegraph", edição
de ontem, sobre um pequeno escândalo local: "Na política, habitualmente é o ocultamento que te pega,
não a ofensa original".
Vale para o caso Diniz?
Lição 2 - As reformas, essa muleta
em que se apóiam quase todos os governos, de direita e de esquerda, cansaram. O governo conservador francês mexeu nas aposentadorias, como
o brasileiro, aliás. Não é o caso de discutir se a reforma previdenciária é ou
não justa, é ou não necessária. O que
vale constatar aqui é que o eleitorado
não gostou e deu uma surra histórica
no governo.
Além disso, o primeiro-ministro
Jean-Pierre Raffarin reduziu verbas
para pesquisa e investigação, o que
levou às ruas quase todos os cérebros
franceses mais midiáticos.
Lição 3 - Mediocridade pode ser
bom para manter a estabilidade, já
que o medíocre jamais tem ousadias
políticas. Mas também não dá voto.
Raffarin é o típico caso do político
cinza, sem brilho.
A quem no Brasil se aplicam tais lições, você decide, leitor/eleitor.
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