São Paulo, terça-feira, 30 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Lições eleitorais

MADRI - A vitória da esquerda nas eleições regionais francesas de domingo, apenas duas semanas depois do triunfo dos socialistas na Espanha, significa uma virada à esquerda de uma Europa que tombava para a direita até recentemente?
Não. Na safra eleitoral recente, houve antes a derrota dos socialistas gregos e o estraçalhamento da social-democracia alemã na cidade-Estado de Hamburgo, seu feudo histórico. Dois a dois, portanto.
Ainda assim e ressalvado o fato de que há abissais diferenças entre o Brasil e a Europa, restam lições de validade talvez universal.
Lição 1 - Mentir, ocultar e/ou manipular informações faz mal à saúde eleitoral de seus responsáveis. É a principal lição do pleito espanhol em que ficou a nítida sensação de que o governo conservador manipulou as informações sobre os autores dos atentados do dia 11.
Vale, a propósito, frase do jornal britânico "Daily Telegraph", edição de ontem, sobre um pequeno escândalo local: "Na política, habitualmente é o ocultamento que te pega, não a ofensa original".
Vale para o caso Diniz?
Lição 2 - As reformas, essa muleta em que se apóiam quase todos os governos, de direita e de esquerda, cansaram. O governo conservador francês mexeu nas aposentadorias, como o brasileiro, aliás. Não é o caso de discutir se a reforma previdenciária é ou não justa, é ou não necessária. O que vale constatar aqui é que o eleitorado não gostou e deu uma surra histórica no governo.
Além disso, o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin reduziu verbas para pesquisa e investigação, o que levou às ruas quase todos os cérebros franceses mais midiáticos.
Lição 3 - Mediocridade pode ser bom para manter a estabilidade, já que o medíocre jamais tem ousadias políticas. Mas também não dá voto. Raffarin é o típico caso do político cinza, sem brilho.
A quem no Brasil se aplicam tais lições, você decide, leitor/eleitor.


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