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ELIANE CANTANHÊDE
De alfaces e lavouras
BRASÍLIA - Na campanha eleitoral, Duda Mendonça escolheu a dedo um
ator, bom ator, para falar no lançamento da candidatura e na propaganda de Lula na TV como se fosse
um genuíno petista.
Não precisava. Se há algo que o PT
tem de sobra é a mais aguerrida militância do país. Em vez de ator, Duda
e o partido poderiam ter selecionado
um militante, bom militante.
Ainda na campanha, Duda arrasou ao filmar Lula passeando entre
mesas de uma sala em que quadros
técnicos e políticos do PT e de seus
aliados simulavam a produção de
um superprograma de governo.
Não deveria. Criou a sensação de
que Lula assumiria o governo já com
projetos prontos e inovadores para
educação, saúde, agricultura, trabalho, segurança pública. Uma sensação falsa, como se vê.
Agora, Duda joga na casa de milhões de brasileiros, via TV, uma propaganda sobre o Pronaf (o programa
de agricultura familiar) mostrando
lindas hortas de alfaces... numa fazenda rica, contratada, que não tem
nada a ver com o programa. E com figurantes, em vez de beneficiários.
Será que precisava? A fazenda mostrada é um luxo, mas os sítios do programa governamental devem ser um
lixo e os agricultores não estão felizes.
Ou seja, a propaganda era falsa. Na
verdade, não havia o que mostrar.
Será que Duda deveria? Propagandas comerciais vendem sonhos, situações e pessoas ideais. São vidas alegres, moças e rapazes com emprego,
com teto, com comida e sem celulite
nem "pneu" na cintura -o que não
é o caso da maioria da população.
Mas propagandas institucionais de
governos devem focar a realidade,
prestar contas, informar. A ética da
propaganda comercial é uma; a de
governos, outra bem diferente.
No mínimo, faltou cuidado ao vender gato por lebre, ou terra seca por
alfaces verdinhas, ou lixo por luxo.
No máximo, sobrou esperteza.
Com a popularidade despencando,
Lula precisa de ação e de um choque
de realidade. Esperteza e marketing
não vão salvar a lavoura.
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