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CARLOS HEITOR CONY
A canoa pode virar
RIO DE JANEIRO - Os índices de popularidade de Lula e do governo caíram semana passada. A queda foi
saudada com foguetório pela oposição e minimizada pela situação
-até aí nenhuma novidade. Mas há
um dado novo na recente pesquisa de
opinião.
Já lembrei aqui o comentário do
Paulo Francis a respeito de um filme
brasileiro, considerado na época como a pedra angular do cinema mundial. Encontrou um amigo à saída do
Metro Passeio, que lhe pediu a opinião sobre a obra-prima que acabara
de ver. Paulo respondeu: "O filme é
uma boa droga, mas o diretor é um
gênio".
Lula e o governo merecem o mesmo
comentário. Bem verdade que o índice de aprovação ao presidente continua alto. Mas caiu nove pontos e isso
me parece perigoso.
Explico: o governo revela-se incapaz, desorientado, sem saber o que
fazer e fazendo o que não sabe. Corremos o risco de uma grave crise institucional. não digo um golpe político-militar no estilo de 1964. Creio que
não há clima para isso. Mas haverá
uma turbulência que não se sabe no
que vai dar.
Para tranqüilidade nossa, temos a
figura carismática de Lula, que até
agora parece estar desempenhando
um papel moderador de rainha da
Inglaterra, sem cheirar nem feder,
mas servindo de âncora para a canoa
do governo não virar de todo. É lícito
esperar dele uma volta por cima que,
pessoalmente, me parece improvável.
Se perder o carisma que a liderança
operária lhe deu, se tiver arranhada
a sua credibilidade pessoal, haverá
um vazio na vida pública, que ficará
mais oca do que está. Não se trata de
considerar Lula o salvador da pátria.
Por bem ou por mal, ele representou
a esperança nacional numa fase de
sucessivos fracassos.
Popularidade se perde e se ganha
de um dia para o outro. Contudo a
vulnerabilidade do mito é preocupante. Da parte de um eleitor que
não votou nele nem em candidato
nenhum na última eleição, a preocupação é anterior à atual crise que ele
atravessa.
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