São Paulo, sexta-feira, 30 de abril de 2010

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RUY CASTRO

Batendo no nanico

RIO DE JANEIRO - Em 1960, na primeira eleição para o governo da Guanabara, defrontaram-se Carlos Lacerda, pela UDN, e Sergio Magalhães, pela coligação PTB-PSB -os dois empatados, quase focinho a focinho nas pesquisas-, e mais o folclórico Tenório Cavalcanti correndo por fora pelo nanico PTN, sem chance de vitória, mas podendo interferir no resultado.
Tenório era jornalista, dono de um vespertino de crimes, "Luta Democrática", e sua base ficava em Caxias, na Baixada Fluminense. Usava uma capa preta, sob a qual escondia a metralhadora "Lourdinha", com que se protegia dos desafetos, os quais viviam ameaçando fuzilá-lo -dizia-se que tinha dezenas de buracos de balas no corpo. Fisicamente, lembrava Groucho Marx, e seu estilo político também era meio "non-sense".
Tenório começara na UDN, como Lacerda, mas seu discurso pendera para um certo nacionalismo, como o de Sergio Magalhães. Naquele momento, a poucas semanas da eleição, roubava mais votos de Sergio Magalhães que de Lacerda. Donde, para Sergio Magalhães, a estratégia de campanha indicava que, se quisesse superar Lacerda, teria de bater em Tenório -não em Lacerda, cujos votos já estavam mais que cristalizados.
Sergio Magalhães fez o que lhe aconselharam, mas era tarde demais. Lacerda venceu por reles 2,3% de diferença -23 mil votos. Não foi só por isto, mas os 220 mil votos dados a Tenório fizeram falta a Sergio Magalhães.
Cinquenta anos depois, a situação se repete. Com Ciro Gomes evaporado, José Serra e Dilma Rousseff deverão concentrar-se nos votos de Marina Silva. Em tese, Marina tira mais votos de Dilma que de Serra. Donde não se surpreenda se, de repente, Dilma apontar a metralhadora para a doce Marina, como se ela fosse sua principal adversária. O que, na verdade, é.


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