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RUY CASTRO
Batendo no nanico
RIO DE JANEIRO - Em 1960, na
primeira eleição para o governo da
Guanabara, defrontaram-se Carlos
Lacerda, pela UDN, e Sergio Magalhães, pela coligação PTB-PSB -os
dois empatados, quase focinho a focinho nas pesquisas-, e mais o folclórico Tenório Cavalcanti correndo por fora pelo nanico PTN, sem
chance de vitória, mas podendo interferir no resultado.
Tenório era jornalista, dono de
um vespertino de crimes, "Luta Democrática", e sua base ficava em Caxias, na Baixada Fluminense. Usava
uma capa preta, sob a qual escondia
a metralhadora "Lourdinha", com
que se protegia dos desafetos, os
quais viviam ameaçando fuzilá-lo
-dizia-se que tinha dezenas de buracos de balas no corpo. Fisicamente, lembrava Groucho Marx, e seu
estilo político também era meio
"non-sense".
Tenório começara na UDN, como
Lacerda, mas seu discurso pendera
para um certo nacionalismo, como
o de Sergio Magalhães. Naquele
momento, a poucas semanas da
eleição, roubava mais votos de Sergio Magalhães que de Lacerda.
Donde, para Sergio Magalhães, a estratégia de campanha indicava que,
se quisesse superar Lacerda, teria
de bater em Tenório -não em Lacerda, cujos votos já estavam mais
que cristalizados.
Sergio Magalhães fez o que lhe
aconselharam, mas era tarde demais. Lacerda venceu por reles
2,3% de diferença -23 mil votos.
Não foi só por isto, mas os 220 mil
votos dados a Tenório fizeram falta
a Sergio Magalhães.
Cinquenta anos depois, a situação se repete. Com Ciro Gomes evaporado, José Serra e Dilma Rousseff deverão concentrar-se nos votos de Marina Silva. Em tese, Marina tira mais votos de Dilma que de
Serra. Donde não se surpreenda se,
de repente, Dilma apontar a metralhadora para a doce Marina, como
se ela fosse sua principal adversária. O que, na verdade, é.
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