São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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DUHALDE SOB PRESSÃO

Mais um capítulo da crise argentina se desenvolveu ontem. A central sindical CTA (Central de Trabalhadores Argentinos) -que reúne sobretudo servidores públicos, e não está ligada ao tradicional sindicalismo peronista- comandou uma greve nacional, que se somou a paralisações de produtores rurais e de transportadores de cargas e foi apoiada por grupos de desempregados e partidos de oposição.
As manifestações não tiveram adesão maciça, mas foram eficazes em bloquear muitas ruas e estradas e estenderam-se por todo o país. Os episódios violentos foram pouco expressivos. Os manifestantes pediam a renúncia de Duhalde e do seu gabinete e rechaçavam o "modelo econômico" e a busca de um acordo com o FMI. Simultaneamente às manifestações, o chefe do Exército, general Ricardo Brinzoni, reafirmou que as Forças Armadas não são "uma opção de poder".
Os manifestantes de ontem poderão tornar-se um novo ator político, de base popular -distinto da classe média que reclama o desbloqueio de seus recursos retidos no "corralito". Esse possível novo ator político pede com todas as letras que Duhalde renuncie imediatamente ao cargo.
Outras forças também cogitam abreviar o mandato do presidente, embora de maneira menos explícita. Trata-se dos governadores do partido do presidente, que vêm negaceando apoio, no Congresso, às medidas que o FMI exige para emprestar ao país. Continua em cogitação, nesses meios, antecipar a eleição presidencial marcada para setembro de 2003.
A instabilidade política tem sido central na crise argentina. Se Duhalde vier a cair sem ter chegado a algumas definições -como o destino dos recursos bloqueados no "corralito"-, será indício claro de recrudescimento da instabilidade. E seu sucessor terá de começar praticamente do zero a árdua tarefa de ordenar a economia argentina.


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