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CLÓVIS ROSSI
Perto do poder, longe da decência
SÃO PAULO - O próximo aliado do PT será Paulo Salim Maluf.
Impossível? Inacreditável? Não, se
se levar a sério a frase com que Luiz
Inácio Lula da Silva justificou a
aproximação com Orestes Quércia:
"Acho que todas as denúncias feitas
contra qualquer pessoa têm de ser
apuradas. Ou a pessoa ganha uma
condenação ou um atestado de idoneidade. Até agora, não teve nenhuma acusação concretizada".
Bom, então Maluf também pode
ser um aliado porque está na mesma
situação de Quércia: cachos de acusações, nenhuma condenação final (exceto um caso ainda pendente relativo
à doação de carros, com dinheiro público, aos campeões do mundo de futebol em 1970).
Além disso, Lula deveria pedir desculpas a todos os membros do governo Fernando Henrique Cardoso e ao
próprio presidente pela catarata de
acusações de maracutaias feitas nos
seus sete anos e meio de governo. Como nem FHC nem seus ministros foram condenados, têm todos um
"atestado de idoneidade".
O PT e Lula têm todo o direito de se
aliarem com quem quer que seja. Só
não têm o direito de usar duas caras.
Ou Quércia era mesmo "ladrão de
carrinho de pipoca", como Lula insinuou na campanha de 1994, ou tem
"atestado de idoneidade". Se verdadeira a primeira hipótese, a aliança
de agora é obscena. Se verdadeira a
segunda, o PT confessa, tardiamente,
que foi leviano.
Da mesma família de leviandade é
o uso, por secretaria petista de São
Paulo, do número absoluto de desempregados para colocar o Brasil
como segundo do mundo em desemprego (tese, aliás, que esta Folha desgraçadamente comprou).
É o óbvio ululante que países com
população enorme (China, Índia,
EUA, Brasil, Rússia) estão condenados aos primeiros lugares do desemprego em números absolutos. O país
tem, de fato, um baita problema de
emprego. Não é preciso uma mágica
estatística besta para dar a ele contornos ainda mais dramáticos.
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