São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 2002

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VALDO CRUZ

Empurrando com a barriga

BRASÍLIA - Após a queda de José Serra nas pesquisas eleitorais, seus aliados passaram a defender uma participação mais efetiva do presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua equipe na campanha presidencial do tucano. Alguns cobram explicitamente redução nos juros.
Apesar das pressões dos serristas, até aqui FHC tem atuado ativamente pelo senador. Primeiro, trabalhou para que ele fosse o candidato tucano à sua sucessão.
Depois, o presidente interferiu mais de uma vez na campanha de Serra para corrigir erros que poderiam fazer a candidatura naufragar. Impôs o nome do marqueteiro Nizan Guanaes e mandou Serra brigar menos com o PMDB na escolha de seu vice.
Ou seja, nos bastidores, FHC tem tido uma atuação, diríamos, efetiva nos rumos da campanha serrista. O que mais ele poderia fazer?
Subir em palanques ao lado de Serra, por enquanto, é proibido. Quando puder, pelo visto vai estar lá. Usar o Palácio do Planalto para divulgar ostensivamente o nome do amigo não seria muito defensável.
Na verdade, a ajuda que os serristas mais gostariam de ter, pelo visto, não terão: algumas medidas que reduzissem a safra de notícias ruins na economia, como desemprego em alta e cheiro de recessão no ar.
FHC e sua equipe praticamente esgotaram seu arsenal para tentar mudar de forma significativa os rumos da economia até o final do ano. Restou uma política defensiva, que tentará evitar a alta da inflação.
Ficou inviável, por exemplo, uma redução brusca nas taxas de juros. Talvez venha uma quedazinha, pequenininha, mas ela não terá grande impacto no mundo real.
Dinheiro para gastar à vontade também não há. O que tem em caixa, em sua maior parte, o governo pode ser obrigado a usar para reduzir o nervosismo dos mercados.
FHC e Malan vão, de fato, empurrar as coisas com a barriga até o final do ano no lado econômico. Não vão arriscar-se, de forma alguma, a perder o registro na história de que controlaram a inflação.



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