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A VISÃO DA ANISTIA
"A guerra ao terrorismo,
longe de tornar o mundo
um lugar mais seguro, tornou-o
mais perigoso". Esse paradoxo resume bem as conclusões do relatório
da Anistia Internacional (AI) sobre
os direitos humanos em 2002.
Na ânsia de defender-se contra
ações terroristas -que não é apenas
legítima como também humana-,
vários países abriram mão de proteções aos direitos humanos, ignoraram aspectos da legislação internacional e também se calaram diante
de violações cometidas por outros
Estados. O esforço antiterror teve
ainda como efeito colateral o aprofundamento de tensões entre grupos
étnicos e religiosos, lançando assim
as sementes para novos conflitos.
O relatório reserva o lugar de grande vilão para os EUA. A América não
está obviamente entre as piores ditaduras do planeta, mas foi causa direta ou indireta de uma série de abusos. Eles começam na nova legislação antiterror do país, que ignora direitos civis e facilita prisões arbitrárias, e encontram paroxismo em
Guantánamo, a base onde centenas
de combatentes da guerra do Afeganistão estão sendo mantidos prisioneiros sem acusação formal ou direitos reconhecidos.
Os EUA também recebem críticas
por ignorar violações aos direitos humanos cometidas por Estados aliados e por terem tentado sabotar a implantação do Tribunal Penal Internacional. A perspectiva de invasão do
Iraque (que se concretizaria em
2003) também roubou as atenções
mundiais, contribuindo para tornar
os chamados conflitos esquecidos
-como os da Colômbia, Costa do
Marfim, Tchetchênia, Burundi e Nepal- ainda mais esquecidos.
Os bilhões de dólares gastos na
prevenção ao terror em 2002 talvez
não tenham tornado o mundo mais
seguro pela simples razão de que as
principais fontes de insegurança ainda são, para a maioria do planeta,
pobreza, doenças evitáveis, tráfico de
armas, corrupção policial e outras
mazelas tão nossas conhecidas.
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