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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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A VISÃO DA ANISTIA

"A guerra ao terrorismo, longe de tornar o mundo um lugar mais seguro, tornou-o mais perigoso". Esse paradoxo resume bem as conclusões do relatório da Anistia Internacional (AI) sobre os direitos humanos em 2002.
Na ânsia de defender-se contra ações terroristas -que não é apenas legítima como também humana-, vários países abriram mão de proteções aos direitos humanos, ignoraram aspectos da legislação internacional e também se calaram diante de violações cometidas por outros Estados. O esforço antiterror teve ainda como efeito colateral o aprofundamento de tensões entre grupos étnicos e religiosos, lançando assim as sementes para novos conflitos.
O relatório reserva o lugar de grande vilão para os EUA. A América não está obviamente entre as piores ditaduras do planeta, mas foi causa direta ou indireta de uma série de abusos. Eles começam na nova legislação antiterror do país, que ignora direitos civis e facilita prisões arbitrárias, e encontram paroxismo em Guantánamo, a base onde centenas de combatentes da guerra do Afeganistão estão sendo mantidos prisioneiros sem acusação formal ou direitos reconhecidos.
Os EUA também recebem críticas por ignorar violações aos direitos humanos cometidas por Estados aliados e por terem tentado sabotar a implantação do Tribunal Penal Internacional. A perspectiva de invasão do Iraque (que se concretizaria em 2003) também roubou as atenções mundiais, contribuindo para tornar os chamados conflitos esquecidos -como os da Colômbia, Costa do Marfim, Tchetchênia, Burundi e Nepal- ainda mais esquecidos.
Os bilhões de dólares gastos na prevenção ao terror em 2002 talvez não tenham tornado o mundo mais seguro pela simples razão de que as principais fontes de insegurança ainda são, para a maioria do planeta, pobreza, doenças evitáveis, tráfico de armas, corrupção policial e outras mazelas tão nossas conhecidas.


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