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CLÓVIS ROSSI
Outro mundo é possível, Lula?
GENEBRA - Carlos Heitor Cony lembrou ontem, dois andares abaixo na
página, mil acima na qualidade, que
a frase do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, segundo a qual "o mundo
mudou, não eu", também foi usada
por Fernando Henrique Cardoso,
com variação semântica.
De minha parte, lembro que, no dia
seguinte ao afastamento de Fernando Collor da Presidência, em 1992, estava de plantão na casa então ocupada por Itamar Franco, já presidente
interino. Havia uma preocupação,
em alguns setores, com uma suposta
inclinação estatizante de Itamar.
Foi o tema da única pergunta que
consegui fazer a ele. Resposta? Você
já adivinhou: "O mundo mudou, eu
também mudei".
Constatar que o mundo muda é
constatar o óbvio. Mas era uma vez
um partido e seu líder que, até o ano
passado, participavam do enorme
coro que dizia que "outro mundo é
possível". O partido chamava-se PT,
e o líder, Luiz Inácio Lula da Silva.
Lembra-se de ambos?
Pois é. A turma do "outro mundo é
possível" não mudou. Está marchando sobre Genebra e Lausanne, as
duas cidades grandes suíças mais
próximas de Evian, na França, que
será a sede da cúpula do G8 e da reunião do chamado "diálogo ampliado", entre os sete ricos mais a Rússia e
os 12 pobres mais a Suíça como co-anfitriã. Afinal, Lausanne faz divisa
com Evian, separadas apenas pelo lago Leman, que, na primavera, é ainda mais encantador.
Como o mundo de Lula mudou, ele
nem poderá ouvir os gritos dos velhos
sócios, porque estará do lado protegido da impressionante barreira policial montada em toda a região, dos
dois lados da fronteira (e do lago),
para impedir qualquer mínimo contratempo para os governantes.
Pena. Está na hora de o presidente
brasileiro decidir de uma boa vez se o
mundo mudou para melhor e, por isso, ele resolveu pegar uma carona no
status quo ou se ele continua acreditando, como até bem recentemente,
que "outro mundo é possível".
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