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MARTA SALOMON
O fundo do poço
BRASÍLIA - Fosse a economia uma
ciência exata, os economistas poderiam dizer quando bateremos no
fundo do poço, quando acontecerá a
virada rumo ao crescimento com que
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acenou mais uma vez ontem.
O pessoal do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) até recorreu a uma "formulinha" para saber se a taxa de desemprego já estava
"consistente" com uma inflação sob
controle. Até a última vez que aplicou a chamada Nairu (do inglês non-accelerating inflation rate of unemployment), no mês passado, ainda
faltavam alguns milhares de desempregados para segurar os preços.
Mas o exercício, além de cheirar à
crueldade de economistas sádicos,
deve ser visto com cuidado. E é nesse
mundo dado a incertezas que moram as previsões para o crescimento
da economia em 2004. Ontem, depois
da divulgação dos dados do IBGE,
ouvia-se de tudo.
Uns têm certeza de que estão rifados os 3,5% de crescimento do PIB
que o governo Lula prevê para seu segundo ano de mandato tanto no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias, a LDO, como nas elucubrações
sobre a chamada "fase dois".
Os argumentos são fortes: 1) o impacto das duas altas seguidas de juros no governo Lula nem chegou à
economia real; 2) os investidores nacionais não se animam a investir
com os juros nas alturas; 3) os investimentos estrangeiros produtivos em
2004 serão decididos até setembro e
outubro, e o tempo pode ser curto para a "virada" (se vier) aparecer.
Já o Ipea, que estimava crescimento
de 2,8% no próximo ano, acha que
ainda há espaço para a economia
crescer mais se os juros caírem rapidamente. Vai dizer isso na semana
que vem em boletim de conjuntura.
Se as fórmulas funcionassem 100%,
nem precisaria haver um Comitê de
Política Monetária no Banco Central
para fixar os juros. Bastaria apelar
para um computador totalmente a
salvo de pressões e esperar a resposta:
quando?
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