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MARCELO BERABA
Depois do Tim
RIO DE JANEIRO - O jornalista Tim Lopes foi torturado e morto por traficantes no dia 2 de junho do ano passado. Depois dele já foram assassinadas no Rio cerca de 7.000 pessoas,
quase umas 20 por dia.
Nesse mesmo período, mais umas
mil pessoas foram mortas pela polícia, outras 200 depois de agredidas
ou assaltadas e quase 5.000 desapareceram. Sem contar os 1.500 cadáveres
e ossadas encontrados.
Ou seja, umas 13 mil pessoas mortas ou desaparecidas no espaço de
apenas um ano.
Esses números brutos, colhidos nas
estatísticas oficiais, sepultam a falsa
argumentação de que o problema do
Rio não é a violência e a criminalidade, mas a "sensação de violência"
provocada pelo noticiário dos jornais, rádios e TVs. O governo, coitado, é vítima dessa conspiração da mídia que escancara os crimes do Rio e
esconde os das outras cidades.
A fuga, ocorrida ontem, de um traficante ligado ao PCC paulista, pela
porta da frente do batalhão da PM
onde estava preso, é mera sensação?
Deve ser só uma sensação o tiro que
atingiu uma universitária dentro do
campus, os assassinatos do produtor
musical em Petrópolis, de duas pessoas em Bonsucesso, na terça-feira,
dos quatro rapazes do Borel que não
tinham nada a ver com o tráfico.
Em junho de 2000, Garotinho, então governador, queixava-se, no Hotel Intercontinental, a representantes
de jornais do mundo inteiro, da imprensa brasileira, que, segundo ele, tinha atração pela violência. No mesmo instante, a poucos quilômetros de
onde discursava, ocorria uma das
maiores tragédias do seu governo, a
do sequestro do ônibus 174.
Nesta semana, o chefe da Polícia
Civil fez uma palestra para comerciantes e brincou: tinha sido preparado para prender bandidos, mas agora estava tendo de aprender marketing para ajudar a diminuir a "sensação de insegurança".
Talvez tenha de aprender que não
existe estratégia de marketing que
consiga elidir a guerra real em que
estamos metidos. Ou existe?
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