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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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MARCELO BERABA

Depois do Tim

RIO DE JANEIRO - O jornalista Tim Lopes foi torturado e morto por traficantes no dia 2 de junho do ano passado. Depois dele já foram assassinadas no Rio cerca de 7.000 pessoas, quase umas 20 por dia.
Nesse mesmo período, mais umas mil pessoas foram mortas pela polícia, outras 200 depois de agredidas ou assaltadas e quase 5.000 desapareceram. Sem contar os 1.500 cadáveres e ossadas encontrados.
Ou seja, umas 13 mil pessoas mortas ou desaparecidas no espaço de apenas um ano.
Esses números brutos, colhidos nas estatísticas oficiais, sepultam a falsa argumentação de que o problema do Rio não é a violência e a criminalidade, mas a "sensação de violência" provocada pelo noticiário dos jornais, rádios e TVs. O governo, coitado, é vítima dessa conspiração da mídia que escancara os crimes do Rio e esconde os das outras cidades.
A fuga, ocorrida ontem, de um traficante ligado ao PCC paulista, pela porta da frente do batalhão da PM onde estava preso, é mera sensação? Deve ser só uma sensação o tiro que atingiu uma universitária dentro do campus, os assassinatos do produtor musical em Petrópolis, de duas pessoas em Bonsucesso, na terça-feira, dos quatro rapazes do Borel que não tinham nada a ver com o tráfico.
Em junho de 2000, Garotinho, então governador, queixava-se, no Hotel Intercontinental, a representantes de jornais do mundo inteiro, da imprensa brasileira, que, segundo ele, tinha atração pela violência. No mesmo instante, a poucos quilômetros de onde discursava, ocorria uma das maiores tragédias do seu governo, a do sequestro do ônibus 174.
Nesta semana, o chefe da Polícia Civil fez uma palestra para comerciantes e brincou: tinha sido preparado para prender bandidos, mas agora estava tendo de aprender marketing para ajudar a diminuir a "sensação de insegurança".
Talvez tenha de aprender que não existe estratégia de marketing que consiga elidir a guerra real em que estamos metidos. Ou existe?


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