São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Lula e a pena de morte
WÁLTER FANGANIELLO MAIEROVITCH
As informações sobre as navegações aéreas suspeitas provêm das bases norte-americanas localizadas em Key West (Flórida), Aruba (Caribe), Iquitos (Peru), Manta (Equador) e Curaçao (Antilhas). Como regra, os aviões dos EUA acompanham os jatos militares dos países onde há suspeitas; ou seja, a destruição é orientada e fiscalizada. As autoridades peruanas, ao tempo da ditadura de Fujimori e por ocasião dos encontros internacionais realizados pela ONU em Viena (1999-2000), contavam com júbilo a derrubada, sem nunca revelar o número de vítimas fatais, de mais de 30 aeronaves. Depois do episódio da missionária e do seu bebê, começou-se a falar na destruição da aeronave em terra, depois do desembarque dos suspeitos. No fundo, essa solução militarizada introduziu uma forma de pena de morte. Parodiando Nelson Rodrigues, até os céus sabem que um avião tem tempo limitado de vôo, pois o combustível acaba. Portanto basta seguir o aparelho e, mediante acordos de cooperação bilateral, avisar as polícias. O piloto, a propósito, poderá se transformar em colaborador da Justiça e realizar a delação premiada com abatimento da pena, além de informar o modo de operação da organização criminosa a que serviu. E a aeronave, apreendida no solo, poderá ser vendida, em benefício do país que teve o espaço aéreo violado. Por evidente, o grande traficante jamais estará ao lado do piloto contratado, que é uma espécie de "mula" com brevê e avião. Pelo que se sabe, os narcotraficantes recomendam aos pilotos que transportem passageiros inocentes e crianças juntamente com as drogas ou com os insumos químicos para refino. Os norte-americanos, é importante frisar, são os fabricantes e os maiores vendedores dos pequenos aviões e hidroaviões utilizados no tráfico de drogas. As vendas, inclusive no Brasil, são realizadas por meio de negócios fiduciários. Ou seja, os aviões são financiados. A propósito, nenhum controle é realizado nas vendas e revendas. Pela lógica do mercado, uma aeronave abatida implicará a compra imediata de outra. No Brasil, diante da lei de mercados de capitais, garante-se às financeiras a devolução de aeronaves não quitadas, apreendidas com drogas. A nossa Aeronáutica, por falta de recursos, raramente emite certificação às pistas que servem a pequenos aviões. Por isso, a maioria das pistas existentes no Brasil é clandestina. Por último, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manteve firme posição de não regulamentar essa legislação, que introduz uma forma de pena de morte sumária e passa a falsa idéia do abate de aeronaves, e não de pessoas. Wálter Fanganiello Maierovitch, 55, juiz aposentado do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, é presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais Giovanne Falcone. Foi secretário nacional Antidrogas da Presidência da República (1999-2000). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Frei Betto: Mutirão das empresas públicas Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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