São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIGENS DA RIQUEZA

Depois de duas décadas perdidas, o Brasil continua órfão de um modelo de desenvolvimento econômico. A riqueza que se produz é mal distribuída, e o seu crescimento carece de bases sustentáveis.
Essa questão diz respeito ao lado real da economia e é central para o futuro da nação, mas está totalmente ofuscada pela incerteza financeira.
No entanto qualquer solução de longo prazo para o financiamento das dívidas (interna e externa), assim como para o conjunto da política econômica, exige a criação de horizontes de crescimento econômico.
Dados sobre o assunto não faltam. O governo, aliás, acaba de divulgar informações preciosas nesse campo. A Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2000, feita pelo IBGE, revela por exemplo um processo de descentralização das empresas no território nacional. O entendimento mais adequado das origens da riqueza na economia brasileira é uma condição necessária para a formulação de cenários de crescimento.
Entre 1985 e 2000, Rio e São Paulo perderam participação relativa, enquanto a produção das indústrias do Sul, Centro-Oeste e Norte cresceu igualmente ou acima da média nacional. O Nordeste, tradicionalmente beneficiado por políticas de fomento, continua sem capacidade de resposta (com exceção do Ceará). Mas a interiorização e desconcentração da indústria são dados cruciais no desenho do crescimento futuro.
O Sul teve uma ampliação expressiva de sua participação na produção da riqueza nacional. O Centro-Oeste concentrou as taxas mais elevadas de crescimento relativo na indústria nacional, refletindo uma significativa, mas ainda pouco reconhecida, abertura de novas frentes de desenvolvimento, em especial da agroindústria.
O aprofundamento da análise desses dados e tendências levaria à formulação de políticas industriais, tecnológicas, de comércio exterior e de fomento à descentralização. Deveria estar no topo da agenda.
Ampliar esse debate não deveria significar um exercício ufanista ou diversionista. As questões financeiras assumiram gravidade sem precedentes, e a política de estabilização da era FHC mostra-se insuficiente.
Mas as perspectivas de longo prazo de qualquer política econômica derivam em última instância da confiança nos horizontes de crescimento econômico. E a construção dessa confiança depende de informações e cenários, de modelos e diretrizes para as quais há dados e pesquisas produzidos pelo próprio governo.
Infelizmente, o que falta é a inteligência dessa realidade, o que contribui para que os destinos da economia flutuem ao sabor dos humores financeiros que condicionam a agenda política nacional.




Texto Anterior: Editoriais: GRAVE CRISE
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Olhar para o lado não resolve
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.