São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Olhar para o lado não resolve

SÃO PAULO - Luiz Inácio Lula da Silva pode ter se modificado tudo o que alguns dizem que mudou ou pode continuar sendo "lobo em pele de cordeiro", como preferem seus inimigos -em geral por puro preconceito.
Só não mudou numa coisa: prefere fingir que não há um terrorismo financeiro nos mercados provocado pelo fato de que ele lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Ou então acredita sinceramente no que diz, o que seria mais grave.
Na entrevista ontem publicada por esta Folha, Lula disse a Plínio Fraga que a turbulência nos mercados se deve a fatores internacionais mais amplos, como as dificuldades da economia norte-americana, que causam abalos num país vulnerável por depender do capital externo como é nitidamente o caso do Brasil.
"Risco Lula é terrorismo que pode se voltar contra o governo", declarou.
Até aí, é verdade. Parece hoje haver um certo consenso, no próprio governo, de que agitar a hipótese da "argentinização" no caso de vitória de Lula foi feitiço que se virou contra o feiticeiro.
Mas pretender que apenas o governo satanize Lula é enfiar a cabeça na areia. O candidato do PT, como qualquer um, pode detestar o terrorismo que grassa nos mercados. Só não tem o direito de ignorá-lo.
Lula sabe perfeitamente que setores do empresariado não o aceitam nem vestido de ouro e prata. Mesmo que Lula designe Jesus Cristo para ministro da Fazenda, continuará a ser visto como o demônio.
Sem contar o fato de que o capital é covarde por definição, e um partido que foi socialista só faz acentuar essa inata covardia.
Reconhecer essa situação não significa, como é óbvio, concordar com ela. Mas quem pretende enfrentar como governante os formidáveis problemas do Brasil não pode ignorar fatos da vida real, por desagradáveis ou até odiosos que sejam.



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