São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Vencer e convencer

RIO DE JANEIRO - Qualquer que seja o resultado de Brasil x Alemanha, acredito que seja tempo de assumirmos uma realidade. Com todos os nossos defeitos políticos, sociais, econômicos e até esportivos, temos uma vocação que não podemos desprezar. É certo que qualquer país ou qualquer indivíduo sente o apelo do triunfo, a necessidade da vitória, o estado de graça da conquista.
Não temos dado certo até agora, a não ser em momentos fragmentados, em espasmos que não chegam a delinear uma trajetória, um destino nacional. Contudo, justamente num esporte que é coletivo e transcende à personalidade isolada do gênio, já firmamos uma regularidade que pode ser definida como um caráter.
Chegamos mais uma vez à final de uma Copa do Mundo. Perdendo ou ganhando, damos um recado aos outros e a nós próprios. Mesmo sem apresentarmos o melhor, podemos ser considerados os melhores pela insistência com que chegamos às finais. Um título a mais ou a menos não altera essa vocação ao triunfo que sentimos em nossa pele e que os nossos craques, uns mais outros menos, souberam expressar ao longo de tantas Copas.
É uma coordenada de que não devemos desdenhar. Por mais banal que seja um esporte que se joga com os pés, por mais tumultuada que seja a nossa prática esportiva, recheada de escândalos e desapontamentos, o fato é que, em igualdade de condições num determinado contexto (o futebol em si), somos capazes de marcar uma liderança insofismável, ainda que não ganhemos a Copa, como em 1950, em 1998 e em outras datas. O Brasil está presente no imaginário internacional como uma potência num esporte que requer talento, disciplina, criatividade e, acima de tudo, espírito de equipe.
São qualidades que não podemos jogar no lixo nem isolar num departamento menor da condição humana. Vencer é ótimo. Mas ser sempre capaz de vencer é mais significativo.



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