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VINICIUS TORRES FREIRE
Fé, esperança, caridade e Lula
SÃO PAULO - Fé e esperança de que dias melhores virão são hábitos de
muito povo deserdado da terra, do
brasileiro em particular, de raras tentativas de revolução social, de misticismo difuso e de um sebastianismo
de baixa temperatura, tudo combinado na crença passiva de que, um
dia, um pai dos pobres virá nos redimir e nos poupar o trabalho de dar
cabo do reacionarismo nacional.
Desde a ditadura de Getúlio, quando as massas passaram a desfilar no
sambódromo da política, é comum
ver presidentes encarnarem o campeão do povo, a resposta à ânsia popular pelo gesto redentor e caritativo.
A multiplicação de movimentos sociais, ONGs e conselhos sociais locais
nos últimos 20 anos ficou longe de esgotar a passividade esmoler, quando
não se tornou mecanismo de acomodação, agora "participativa".
Exemplo de modernização política
em parte tragada por macumba e paternalismo é o próprio PT. O grande
partido social do país foi acaudilhado pelo líder operário santificado,
Lula, que, presidente, veste o manto
do Conselheiro, o pijama do Getúlio
suicida, a camiseta do peão e embala
tudo em linguagem de marketing político e manual de auto-ajuda.
O último Datafolha mostra os sinais típicos de que a política nacional parece estigmatizada por desvirtudes teologais, fé, esperança e caridade. Em mais de uma década, o povo jamais esteve tão otimista quanto
a desempenho do governo, emprego,
salário e melhoria da vida em geral.
A esperança de hoje supera em muito
a da melhor fase do governo FHC,
quando a inflação caía da casa dos
milhares para a dezena, o país crescia mais de 10% em dois anos e 10
milhões deixavam a miséria.
O cínico pode dizer que, ruim como
está a vida, pior não há de ficar, esse
talvez o motivo de tanta fé na caridade do pai dos pobres. Em 40 anos, a
massa só foi às ruas quando a recessão batia em 4% (1981/83 e 1990/92).
Por que eles pedem tão pouco?
Este colunista assistirá em casa ao
espetáculo do crescimento prometido
por Lula -em julho, estará de férias.
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